21.5.06

um punhado de palavras.

o jardim era uma selva. aas plantas, deixadas à própria sorte, tinham crescido contentes em todas as direções. por trás de sua irreverência, a casa se erguia altaneira. uma dama escondida pelas plumas de um vestido exuberante.
o tempo vinha desenhando uma nova fachada . aqui e ali, pequenas rachaduras e uma sombra verdolenga lhe davam um ar de memória.
passar pelo jardim, subir as escadas largas até a porta alta e estreita era quase uma aventura.
mas supreendentemente a porta se abriu sem um rangido. correu suave nas dobradiças, num mudo convite: entra e devoro-te.
o som do riso atravessou o vestíbulo, chegando até a sala. quando a porta se fechou novamente, o calor da rua se foi. ali dentro era fresco como numa caverna. as janelas, mal-fechadas por persianas quebradas, pareciam olhos modorrentos a se entreabrir.
esta casa. e toda uma história.
o caminho para o sótão estava desimpedido. lá dentro, os baús. e nos baús, papéis. e fotos. e cartas. e tudo. era por ali que devia começar. e também - finalmente - terminar.

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