31.1.06

o fim está próximo...

por mais que eu tente ser inteira, independente. por mais que eu tente não me espelhar no que os outros pensam, é impossível ser imune a algumas pessoas. à opinião delas sobre mim. ao que elas sentem por mim. na verdade, é mais isso – o que elas sentem por mim. tenho um amigo de muitos anos. já comemos alguns sacos de sal juntos. ele, de certo modo, me viu crescer. e me ajudou a crescer. tem poucos anos mais que eu. muitas vezes foi meu irmão mais novo. foi também meu irmão mais velho em incontáveis ocasiões. eu sempre senti o carinho e a admiração dele por mim. esses dois sentimentos foram minha mola propulsora numa determinada época. fomos sempre amigos. como dizem as pessoas “só” amigos. sem clima, sem segundas intenções. isso faz tudo ainda mais importante.
já, há um certo tempo, quando o vejo, tenho sentido uma enorme vontade de chorar. choro, depois que nos despedimos. tenho me perguntado por que, e hoje descobri. é que já não sinto nele aquele carinho e admiração. pela primeira vez constato que amizades também morrem. como amores. às vezes, de um lado só. eu estou perdendo esse amigo. talvez eu o tenha decepcionado. talvez eu não seja quem ele pensou. talvez eu tenho mudado. não sei. como também não sei dos amores que perdi. há uma razão? só sei que vejo esse amigo indo embora. e a nossa amizade, morrendo devagar e quietamente. quis falar com ele sobre isso hoje. não consegui.
isso acontece num momento em que ele está mais uma vez me ajudando, apostando em mim. contraditório? essa é a essência humana.

30.1.06

o segundo passo

eu estou de viagem, bagagem pronta, olhar faminto de paisagens.
estou com sapatos fortes, roupas confortáveis e
minha mochila leva pouco mais que o essencial.
levo chocolates, que vão derreter sob o sol
e congelar no ar frio da noite.
levo memórias e um diário.
levo fotos e um pedaço do bolo da minha avó.
levo músicas do tempo que eu era jovem e outras que me ajudam a envelhecer.
não posso levar companheiros
mas eles vão seguindo pela estrada ao lado.
levo o perfume preferido da minha mãe,
uma antiga pulseira do meu pai - feita de um dólar de prata.
levo o sorriso de um irmão, o trejeito do outro
e minha mania de fazer piada de tudo (acho que é da família inteira).
nos calcanhares me persegue uma depressão,
mas eu já aprendi a mantê-la longe o bastante.
agora sou estrangeira, forasteira, de fora, uma estranha.
que deliciosa sensação.