8.11.06

eu sou você

eu sou você.
ontem, hoje e amanhã.
sou seuprimo, sua mãe, sua tia.
sou família,
mas dou pra mais de seis.
sou a dona fulaninha que fica
na janela a tarde inteira
e o seu beltranóide que só vai pra cama com o jô.
ando de ônibus e de ferrari,
já dei duas voltas ao mundo, uma de metrô.
frequento o clube da esquina,
leio livros da bienal,
ouço a fm da
vez
e também a voz do brasil.
como pequi e peru,
cabutiá e trufas.
curto ópera e vivo latindo pro funk.
sou um caldinho de raças (não é
erro, não,
é caldo cultural)
amo ouvir caetano dizer "eu sou neguinha"
e transo homem, mulher e correlatos.
tenho culpa católica,
fanatismo
de crente,
acredito em vidas passadas
e no futuro que a cigana leu.
teço do avesso,
costuro no trânsito,
pinto e bordo nos finais de
semana.
sou todo mundo,
bloco na rua,
sou pierrô borrado
em
terça de carnaval.
tenho samba no pé,
coração de ouro,
barriga de
tanquinho
a cabeça nas nuvens.
mas sou perna de pau,
logo aqui, onde quem faz
um gol é rei.
quase uma gisele,
tenho problema de pele,
o nariz do giane,
torço pra marília,
namoro o ricardão.
sou a hidra de lerna, tenho mil olhos, sete cabeças e
se arrancar uma,
nascem outras cem.
aqui sou brasileiro,
me chama de estrangeiro,
mas minha terra é aqui, lá e além.
estou em tudo,
mas só estou certo quando
ninguém me vê.
estou na tv, na revista, no jornal,
principalmente no etc e tal.
já me descobriu?
sou o marketing.
meu nome é pessoa.



(se vc achou que era poesia, desculpe. meu nome é
trabalho...)

24.10.06

do outro lado

olho dentro de mim,
a névoa permanece.
seres fugazes, vorazes, velozes
mal deixam rastros que eu possa seguir.
meu cansaço busca um recanto,
banco duro de pedra,
cercado de limo, flores medram
em suaves circunlóquios coloridos.
dentro aqui ainda é cedo.
rezo à Luz Suprema
faço votos de batalha,
ergo a espada e fecho a porta.
há de continuar a guerra,
mas declaro trégua.
meu tempo agora é de paz.

27.9.06

entre bocejos e pescadas

olha eu aqui!
faz um mês que voltei a trabalhar na mesma empresa que deixei a um ano. tudo mudou por lá. as atribuições são outras, mas a pauleira é a mesma. e de lá não dá pr postar, pq os blogs são bloqueados. e à noite, depois de chegar em casa, brincar ou brigar com a filhota (banho, escovar dentes essas coisas que crianças adoram fazer), sobra pouca inspiração pra blogar. agroa mesmo, são 22h35 e eu ainda vou lavar a cabeça pq amnhã cedo não dá tempo... ou dá? acho que vou testar...
tenho pensado em dar um tempo no blog. ao mesmo tempo é meu ponto de contato com amigos tão queridos...
hoje sou toda reticências...
deve ser pq estou quase dormindo em cima do teclado. uahhhhhh!
eu escrevo. eu volto. hããã... outro dia...
(e se eu sonhasse que estou dormindo e neste sonho acordasse rindo das flores que brotam lindas da sua boca?)

9.9.06

somos quem podemos ser

(graças a deusa)

eu era de fita,
laços e sianinhas.
eu era loura e linda,
um mimo de menina.

mentiras, falácias,
mas tão bonitinhas...

um dia eu soube
que não eram de algodão
as nuvens
nem a lua, de queijo
nem os príncipes, encantados

e romperam-se os laços,
esgarçaram-se as fitas

e pude então correr pelo céu,
pulando nuvens etéreas,
entendendo o sentido da chuva.

sonhos que pude ter
pessoa que posso ser
afinal.

14.8.06

mentiras que me contaram

. come tudo, filhinha, pra ficar lindinha!
(então tá, mãe)

. tem que estudar muito pra ser alguém na vida
(o lula, a carla peres , a luciana gimenez e os big brothers e correlatos que o digam)

. menina que não presta fica pra titia
(sorte a dela!)

. moço bom não gosta de mulher oferecida
(então tá, de novo)

. você vai ficar com a bunda da sua avó, hein!
(graças a deus essa não pegou. com todo respeito, vó)

. cuidado que vc tem tendência pra engordar
(se tivesse, do tanto que eu como, ia estar no programa do gugu, pedindo um spa pra me aceitar de grátis ou uma cirirgia no estôgamo pelamordedeus)

. em boca fechada não entra mosquito
(é, mas o sapo também não sai e a gente acaba engolindo)

. loira é burra
(quem em conhece sabe o quanto isso falso. loiras são muitíssimo inteligentes, por isso algumas se fingem de burras. e todas são modestas)

. quem tudo quer, tudo perde
(ã-rã...)

. se não for perfeito(a) não serve
(essa tá dura de acabar. preguinô, sabe como?)

. eu jamais pensaria isso de você
(pois eu não só pensei como tô fazendo)

vou parar por aqui. tem muito mais, foi só uma palhinha. se quiser contribuir, faça sua lista que eu publico. vou adorar saber as variações desse tema.



8.8.06

bem disseram

1. " diga-me o que odeias e te direi o que amas."

2. "o que vejo no outro é a minha própria imagem refletida"

(pra variar esqueci de anotar quem falou. se vc sabe, me conte)

3.8.06

cavalos-marinhos e outras bobagens

eu queria saber escrever levezinho, que nem a ella (alguém sabe como fazer isso virar link?). ela escreve coisas tão sérias de um jeito assim... casual. até quando não é casual, quando trata de massacres emocionais, ainda é leve, porque tem o peso da alma.
ou então escrever tão autenticamente como a atena, que eu leio ouvindo.
ou até mesmo como o que eu mesma escrevo, mas não quando chego àsteclas. quando ainda está na minha cabeça...
mas meu escrever é também um espelho. enquanto eu não souber viver o que sinto, como vou saber escrever, não é?

...................................................

hoje elvei uma lavada da minha... professora? facilitadora? amiga? do pathwork. ela me colocou frente à frente com a minha absurda infantilidade. eu saí de lá com tanta vergonha e raiva, aos prantos. ainda estou com aquela sensação de que fiz coisa errada, tão típica de mim. ela não fez nada de mais. só não alisou, como eu esperava-queria-precisava. ela foi cruel, sim, pra minha criança. mas foi o que devia ser pro meu adulto. e é tudo que eu preciso ser agora. brigada, linda. duvido que vc me leia, mas ainda assim.

.................................................

Vento no Litoral
Legião Urbana

De tarde quero descansar, chegar até a praia
Ver se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras

Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.

Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo.

Quando vejo o mar
Existe algo que diz:-
A vida continua e se entregar é uma bobagem.

Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim.
Quero ser feliz ao menos.

Lembra que o plano era ficarmos bem?
- Ei, olha só o que achei: cavalos-marinhos.

Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.

1.8.06

será que tem mais desse?

De Leo Jaime, no Programa Saia Justa:
"Mulher sem celulite não dá pra conversar".
Eu amo esse cara. E ele ainda canta bem.

24.7.06

alice pollyana e o gênio da lâmpada

olha que coisa estranha é o ser humano. quando eu saí do meu penúltimo emprego (do último "me saíram"), eu pensei em trabalhar em casa, fazendo freelas. aó o dinheiro acabou e eu fui procurar outro trabalhao. mas durou apenas seis meses. e de lá pra cá venho vivendo com freelas, o que não é muito fácil, mas vai-se levando. quer dizer, eu consegui o que queria: estar em casa, pra ficar mais com minha filha, cuidar das minhas coisas e, ao mesmo tempo, trabalhar. só que eu fiquei sempre tão preocupada com a instabilidade, com não ter uma data certa pra receber etc, etc, etc, que nem me dei conta de que, enfim, realizei um desejo. veja, bem, caro leitor, você mesmo pode estar finalmente vivendo o grande sonho da sua vida. e ele está passando batido porque você nem está olhando. está preocupado proque tudo mudou, porque as coisas são diferentes do que vc imaginou, blá-blá-blá.
alerta vermelho, queridos. a gente fica com a janela fechada, calculando perdas e danos, revirando nossos baús de casos velhos *. o gênio da lâmpada realiza nossos desejos e a gente nem tchuns.
me devolve meu lugar comum: a vida é bela. difícil. e bela. como tudo que vale a pena.
* meus agradecimentos a indiara, que cunhou esta riquíssima expressão idiomática.

16.7.06

escolhas


acabei de escrever sobre escolhas num comment para atena. e, naturalmente, acabei pensando nas minhas. quantas certas, quantas erradas. quantas verdadeiras e quantas por ilusão. não importa o tipo, a forma, nem a cor. as consequências de cada uma são todas minhas. (embora, é claro, respinguem na vida dos que me são próximos. ou inundem...)
meu lado alice pollyana sempre me diz que mesmo na pior escolha, nas mais dolorosas consequências, sempre existem lições. o melhor no pior. de tudo saímos maiores, mais fortes. meu lado rick-humphrey bogart concorda em parte. às vezes se aprende. às vezes, apenas sofre-se barbaramente, e vai-se tocando a vida, que outro jeito não há.

8.7.06

delírios


imagine que você está deitado, descansando. aí um som começa a entrar pelo seu ouvido esquerdo. segundos depois, outro som, distinto do primeiro, alcança seu ouvido direito. e outros sons vão vindo. ao mesmo tempo, há uma sensação em seus braços, outra em suas pernas. seu coração se alegra, se entristece e se angustia. seu cérebro dá voltas, diferentes sabores se fazem sentir em sua língua, cheiros diversos atraem seu nariz.
é assim que me sinto agora, nesse momento, nesses dias. se o universo conspira a meu favor; se deus me envia seus recados por mensageiros inesperados; se os anjos falam comigo em sua linguagem simbólica; se demônios me tentam sorrateiramente, tudo isso está acontecendo ao mesmo tempo. sou pouca para tantas informações. sou pequena para tantos conhecimentos. e sou ínfima para tanto merecimento. deus, o universo, os anjos e os demônios querem que eu cresça, amadureça, mude, melhore, me torne eu mesma em alto grau. ou querem outra coisa, mas que assim entendo. é tudo muito bom, muito intenso, e muito dolorido.
acho que estou recebendo uma massagem cósmica. ou enlouquecendo.

3.7.06

sol, cama e feijão

não há trégua, só luta.
não há repouso, só reparação.
a praia, o clube, o fim de semana,
tudo ilusão.
fazer amor devagarzinho, enquanto as crianças estão no vizinho.
ou correndo mais que o despertador – que amor!
o dourado do sol
esverdeando na tela do computador
numa luz branca de torturador
até que o cansaço dê o sinal – o dia acabou.
o banho que às vezes confunde : é o da noite ou da manhã?
a pasta na escova, com gosto de ontem e também de amanhã.
a semana passada
pela empregada,
desajeitando a gola, quebrando na manga,
queimando zíper, costura e botão.
e o rola, rala, rela do ônibus
a bola, o bolo, o belo do sábado,
e o tempo espremido
nos intervalos da novela,
no sonho da passarela,
na taça verde-amarela,
até que um dia desses
vai-se bater ponto no céu.

27.6.06

grata

direi o óbvio: ter amigos não tem preço. tenho poucos, muito poucos. e mais porque eles persistem, insistem em gostar de uma amiga tão ausente. (meus queridos, vocês são ótimos, mas eu sou uma amiga abaixo do sofrível...). eu sinceramente gosto dessas pessoas. apenas não consigo dizer a elas ou ser menos egoísta a ponto de lhes mostrar o quanto são valiosas pra mim.
e não sei porque não consigo. eu sei que já fui uma amiga decente em algum lugar do passado. mas aos poucos fui esquecendo como é que se troca sentimentos. fui desaprendendo esse escambo emocional. meus amigos fizeram outros amigos. eu não. apenas aprendi a conviver mais comigo que com o Outro. nas vezes em que fiz análise, quando o terapeuta perguntava qual a razão de estar ali, sempre respondi: dificuldades de relacionamento. uma amiga, certa vez, definiu bem meu problema. disse que eu sofria do efeito kolynos. cada vez que ela tentava se aproximar, baixava um escudo de proteção invisível... touché!
falo desses amigos porque recebei de todos os que leram o post anterior uma oferta de ajuda, de apoio. e aqui, detrás do meu escudo, envio a cada um um beijo carinhoso. um dia, conseguirei me desfazer dele. estarei aberta às doçuras e amargores da vida sem armaduras. espero que eles continuem tendo a infinita paciência de me esperar. e mesmo que não o façam (o que duvido), meu amor tem efeito duracell.
este não é um post de mea culpa, nem de auto-piedade. é apenas um auto-retrato.

23.6.06

Ela Christé Ké Panagiá!

alguns momentos são mais complicados que outros. esse agora tá... no limite. estou tentando segurar a onda, o maremoto. os estragos ainda são poucos e contronáveis. mas se continuar assim, não sei. o único sentimento de que tenho certeza é o de que a lição é dura, mas precisa ser aprendida. mas vamos levando, que o que importa é que a gente tem saúde. e a vida não tá fácil pra ninguém. e na vida tudo é passageiro. menos o motorista e o cobrador.

19.6.06

a justa medida

Senhor,
me ajude a ficar livre do mais ou menos.
Que eu cante ou chore,
mas que não permaneça no limbo da mediocridade.
Que eu seja gelo ou fogo,
mas que não entenda as pessoas pela metade.
Que eu seja muito feia ou menos bonita (ou o inverso, que é melhor)
mas que eu não faça do espelho minha única identidade.
Que eu dê moeda ou abraço,
mas que eu não me contente com compaixão sem atitude.
Que eu seja tudo - bom ou ruim - muito ou pouco,
mas não me permita uma vida acomodada, inerte,
indiferente, mesquinha, pequena.
Me transforme antes em flor de jardim.
Dessas que têm perfume
ou que são belas
ou que são ervas
ou que estão mortas.

17.6.06

marineuza

pego balde e vassoura. panos velhos, detergente. abro a porta e entro. os olhos se acostumam pouco a pouco à escuridão. tudo é decadência, tristeza, abandono. penso em recuar, a tarefa é por demais grandiosa. já não há mais volta. em passos lentos, mas decididos vou até a janel e puxo o velho brocado, que se desmancha em minhas mãos. a luz entra e revela os estragos. mas, afinal é dia. olho em volta. hora de começar.

16.6.06

invasores de corpos XLIII

fui invadida por um alien. pode ler de novo: a-li-en. ele está, aos poucos substituindo meus cabelos. por isso eles caem tanto, tanto, e eu nunca fico careca. porque tem um alien tomando o lugar deles, fio a fio. isso começou há uns 5 anos. bem sutil, no começo. uma leve mudança na textura. uma nova maneira de se posicionar. eu corri e cortei bem curto. achei que ia dar uma força, sabe como? e deu mesmo. o alien assumiu de vez. hoje, o que eu antes achava que eram meus cabelos tem vida própria. humores. é, sim. tem dia que está simplememente insuportável. noutros dias, irreconhecível. e há também alguns dias bons, em que eu quase acho que tudo voltou ao normal.
mas o pior eu ainda não contei. o alien está se espalhando. e começa a invadir a minha pele. vai substituí-la aos poucos por algo que vai parecer comigo, mas não serei mais eu.
se vc me encontrar e não me reconhecer, tudo bem. serei então totalmente o alien. e eu suspeito que no planeta deles não tem botox.

13.6.06

ménage-à-trois

olhe bem pra nós dois
o que virá depois,
quando o silêncio
vier de vez?

seremos os três
amantes outra vez
e nenhuma manhã será de adeus.

mas eu não quero essa coisa sem voz
eu não quero me separar de nós

vamos mandar o silêncio fazer ruído noutro lugar
vamos nos encarar
como estranhos num espelho
turistas no estrangeiro
como se estivéssemos aqui no mesmo lugar

só você e eu,
sem o silêncio pra escutar
nada de ménage-à-trois
nada de mágoas pra guardar

tudo se pode falar
uma vez.

11.6.06

artrópode

eu estava com medo. gélido, paralisante. um medo que só quem já teve síndrome do pânico, depressão, sofreu assalto à mão armada ou ouviu a sentença de um médico sobre um ente querido num corredor de hospital.
um medo de morte.
não, eu nunca mais conseguiria. não, era irreversível. não, não tinha jeito, nem choro, nem reza brava. não, eu não era mais eu. não, eu é que era mesmo assim. não, não, não, não.
mas a garra do medo não é mais dura que a do orgulho. e o medo que me puxa pra baixo nada pode contra a do orgulho que me leva pra cima. vou me ralando, me esfolando, me batendo. mas a boca do lobo já não é tão funda.
a rita bem que disse: livre-se das suas máscaras! mas seja gratas a elas. foram elas que a trouxeram até aqui.
certamente , um dia desses, já não serão mais necessárias e delas me despedirei com certo alívio, e - espero - com leveza.
hoje são um exoesqueleto: me defendem e me mantêm de pé.
e, by the way, estou sim, me sentindo um inseto. mas dos bonitinhos. e que avua...

6.6.06

mar da serenidade

é preciso não ter sonhos.
olhar horizontes é hábito crepuscular.
objetivos retos e estreitos.
únicos e particulares.
perpendiculares.

é preciso olhar à frente.
teso como um soldado raso,
lépido como o sargento.
indiferente como o cavalo.
rápido.

é preciso soltar a vida.
que ela corra como um rio,
célere.
que ela suba como a pipa,
etérea
que ela seja como é,
minha.
e válida.

meu anjo, guarda minhas ilusões em algodão, para que ao acordar eu as tenha de novo intactas e macias em minhas mãos. minhas ilusões são frágeis. mas preciso delas, ainda um tanto. amén.

28.5.06

em círculos

espero
com meu coração cultivando dúvidas,
colhendo a impaciência
que é fruto de toda espera.

espero
com a esperança dos que não crêem
- e ainda assim esperam.

espero como se todo futuro fosse amanhã,
toda solução fosse matemática,
como se espera a volta de um soldado.

a espera me ensina
as lições do desespero:
guardo os cigarros, as revistas mal-folheadas,
as mãos que não sossegam.

(de dentro da gaveta
o relógio me sussura as longas preces da agonia)

espero.

25.5.06

mantra

tudo é uma questão de manter
a mente quieta
a espinha ereta
e o coração tranquilo.

21.5.06

ela

ela está em todos os jornais
e nos livros de auto-ajuda.
ela está atrás da porta,
minha inimiga muda.

corvo que me contempla
com olhares de rapina
sereia que me seduz
e, por não ter voz, me fascina

três vezes te renego,
a cada madrugada.
até que o cantar do galo
te faça virar em nada.

um punhado de palavras.

o jardim era uma selva. aas plantas, deixadas à própria sorte, tinham crescido contentes em todas as direções. por trás de sua irreverência, a casa se erguia altaneira. uma dama escondida pelas plumas de um vestido exuberante.
o tempo vinha desenhando uma nova fachada . aqui e ali, pequenas rachaduras e uma sombra verdolenga lhe davam um ar de memória.
passar pelo jardim, subir as escadas largas até a porta alta e estreita era quase uma aventura.
mas supreendentemente a porta se abriu sem um rangido. correu suave nas dobradiças, num mudo convite: entra e devoro-te.
o som do riso atravessou o vestíbulo, chegando até a sala. quando a porta se fechou novamente, o calor da rua se foi. ali dentro era fresco como numa caverna. as janelas, mal-fechadas por persianas quebradas, pareciam olhos modorrentos a se entreabrir.
esta casa. e toda uma história.
o caminho para o sótão estava desimpedido. lá dentro, os baús. e nos baús, papéis. e fotos. e cartas. e tudo. era por ali que devia começar. e também - finalmente - terminar.

19.5.06

a criança dorme.

"Serei sempre, sob o grande pálio azul do céu mudo, pajem num rito incompreendido, vestido de vida para cumpri-lo, e executando, sem saber porquê, gestos e passos, posições e maneiras, até que a festa acabe, ou o meu papel nela, e eu possa ir comer coisas de gala nas grande barracas que estão, dizem, lá em baixo ao fundo do jardim."
(fernando pessoa, livro do desassossego, 166)
assim eu achava que seria minha vida. assim eu a rejeitava. quis não mais ser "em verso ou prosa, empregado de carteira" . quis ser mais que gato ou herói. ou antes: quis ser diferente. ainda quero. quero uma vida de verdade, em que eu saiba se é dia ou noite, se tenho fome ou sono. em que não confunda a dor da angústia com a de um infarto. em que eu saiba a diferença entre corpo e sentimentos, e possa sentir um e aceitar o outro. em que não ande sempre no piloto automático. uma vida em que o domingo seja meu e não uma disputa entre faustão e gugu. em que não esqueça o que é inesquecível.
não quero nada que outros tantos não queiram.
quero um querer comum, um sorvo de ar, uma gota de chuva, um riso.
quero ser o que não ouso ainda porque me desconheço. mas que tenho sido, ocultamente, através dos tempos.
estou em gestação. no escuro do meu próprio desassossego, nem imagino o que seja a luz. flutuo no líquido morno e nutritivo de tantas interrogações. e espero, mãe e feto, parteira e dor, tesoura e amanhã.
"Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querê-las... / Que tristes os caminhos se não fora / A mágica presença das estrelas!"
(mario quintana - espelho mágico)

18.5.06

com mil demônios

tenho ficado muito tempo em casa. tenho tido muito tempo. e não sei bem o que fazer com ele. claro que me ocupo. numa casa sempre tem mil e uma coisas pra fazer, e ainda aparecem uns freelas... mas ainda assim é muito tempo livre. pra pensar. sabe o ditado cabeça vazia, oficina do demo (ou coisa assim)? pura verdade. o demônios - no conceito grego - resolvem todos falar comigo ao mesmo tempo. e eu descobri que tenho um pra cada personalidade. (meu nome é legião...) há tempos venho tentando me imbuir do conceito budista do não-desejo. do desapego. da certeza da impermanência. mas fomos todos criados para exatamente o contrário. meus demônios me exercitam, me colocam à prova. alguns desejam o novo, o inesperado. outros desejam manter a qualquer custo uma vida que não existe mais. e há os que temem. e os que se enraivecem. e os que choram e sentem dor. mas como existem deuses, há também os que afagam e acarinham. e me guiam gentilmente - às vezes me empurram - para fora do pântano.
tenho lido muito. ler é meu refúgio. e meus demônios lêem comigo e comigo interpretam e questionam e aprendem. e se divertem também, pelo menos alguns. sabe de uma coisa? meus daemons são gente boa. talvez, não fossem eles, meus dias seriam apenas de silêncio e paz. algum tipo de morte. meus demônios me mostram que estou viva.

13.5.06

quase nada a dizer.

eu quero muito acreditar.
mas quando olho nos seus olhos
e não me vejo lá,
desisto.

10.5.06

recado de anjo

você sabe o que é um recado de anjo? é quando há algo que você precisa muito ouvir, saber, se tocar de, e aí seu anjo-da-guarda, na impossibilidade de falar por voz própria manda um recado. pode vir numa frase de um livro. numa fala de novela. num título de comercial. na voz da ana maria braga... (anjos têm um senso de humor muito sutil...).
semana passada, eu recebi um. a porta-voz foi a mãe de uma coleguinha da minha filha. uma pessoa com quem eu gosto muito de conversar, antenada, inteligente.
falávamos sobre depressão, sobre desmotivação e suicídio. e aí ela citou alguém (desculpem, não lembro). uma psicologa famosa, uma escritora... enfim...esta pessoa falava que os jovens e crianças de hoje têm mesmo que ser desmotivados. nós pais, só nos queixamos: do trabalho que é ruim; do salário que os impostos come; da violência; ; das mentiras e falsidades; das falcatruas; de todos os "não pode" que dizemos às crianças baseados nos perigos do "mundo louco" em que vivemos.
aí me diga: como é que estas crianças vão crescer apreciando a vida? pra que vão trabalhar, se o patrão é medíocre, se a empresa explora?
pra que se esforçar, se o ladrão, os impostos, a inflação levam tudo?
crescem sem lembrar que a vida tem tudo isso, e tem também um monte de coisas boas, bonitas, valiosas.
não podemos esconder a realidade dos jovens, das crianças. mas podemos mostrar que ela não tem apenas uma face. e que viver é bom e vale a pena.

não satisfeito, meu anjo mandou outro recado pra completar esse. essa música aí embaixo, cantada pelo elvis-the-pelvis (outra prova de que o bom e o ruim podem conviver bem)

I Believe

I believe for every drop of rain that falls a flower grows
I believe that somewhere in the darkest night a candle glows
I believe for everyone who goes astray someone will come to show the way
I believe, I believe
I believe above the storm the smallest prayer will still be heard

I believe that someone in the great somewhere hears every word
Every time I hear a newborn baby cry or touch a leaf or see the sky
Then I know why I believe


meu anjo tem certa tendência a polyana.
eu também.

5.5.06

as horas de solidão

o que fazer dessas horas com que a solidão me presenteia?
como brincar com todo esse silêncio?
há estrelas lá fora, há vento e grilos e tudo.
com tudo isso se poderia fazer um poema.
e no entanto eu faço perguntas.
os relógios não marcam horas
marcam o espaço, o percurso
entre o pensamento, a mão e a tecla.
nesse interlúdio
escorrego por entre as máscaras.
sou eu, aqui, sob a luz.
dou as mãos ao silêncio, me visto de solidão
e saio a brincar de roda
por entre estrelas e memórias.

3.5.06

no risco.

nenhum sentimento é mais detonador do que o medo. é o blockbuster das emoções. faz a gente perder todas as perspectivas, ver tudo torto e flutuante. o medo incapacita até para o amor.
o medo faz odiar.
o medo faz matar.
o medo faz silenciar.
o medo faz estragos tão grandes que muita gente morre. de medo.
e o que se contrapõe a ele? a esperança? a fé? acho que só o auto-conhecimento. as certezas íntimas de que sobreviveremos. e o humor. o bom humor, o riso, desarmam o medo. impedem que ele nos torture.
falei da fé. ela também é importante. mas não a que reza e pede, mas a que confia e aguarda. (aguardar não é cruzar os braços, viu? é continuar remando, certos de que vamos chegar a algum lugar útil).
o medo é do ego. ele não quer perder, não quer abrir mão, não quer sair mal na foto.
vem de tudo que a gente não se permite ser e viver. o medo vem do hábito. a gente quer tudo igual, estável, certinho. viver no risco? nem pensar.
mas tem outro jeito de viver que não seja no risco?
enquanto escrevo, contemplo esse medo que me faz suar e tremer. que deixa as mãos molhadas e a boca seca. que me faz fechar os olhos. que me impede de dormir.
argumento comigo:
o medo me faz mono. sou estéreo.
o medo me faz 1.0. mas já estive off-road o suficiente pra saber que tenho turbo e tração nas 4 rodas.
por mais que ele seja grande, não é dois. e eu sou várias.
e, ainda assim, tenho medo.
por que escolhi diferente. porque há o feijão e há o sonho. porque meu ego é forte e a carne é fraca. porque ainda não sei se estou caindo ou voando.

2.5.06

fala, filhota!

o rancho xxx é muito bom. lá tem piquenique, casinha, tirolesa e a gente pode soltar pipa e tem piscina que a gente não pode
nadar.

(emprestei o espaço só um pouquinho pra minha filhota escrever. coruja, eeeeuuuu?)

graças, são narciso!

certeza: postar vicia.
fico aqui pensando na próxima coisa, no próximo assunto, na próxima poesia, nos próximos comentários.
fico elaborando temas, fazendo frases, nas horas mais inconvenientes.
e se o trem sai do ar, é um deus-nos-acuda interno. pensamentos em polvorosa, dedos formigando (e o post? e o post?).
mas é tão bom, tão bom, tão bom...
escrever é tão bom quanto ler. e num espaço que é meu, meu, só meu, infantilmente todo meu...
ave, narciso! esta que adora o próprio blog vos saúda!

1.5.06

pipoca, silêncio e poesia.

e depois tem gente que não gosta de ler.
“ o amor que acende a lua”, de rubem alves, ed. papirus, é uma coisa.
são textos , vários, abordando diferentes temas. todos, claro, trazendo a unidade da mensagem. pra quem gosta de escrever é uma aula. frases curtas, de uma simplicidade desconcertante. pra quem gosta de ler é um achado. nestas mesmas frases, conceitos tão ricos e tão... nossos – de todo mundo. poesia em prosa.
acabo de ler dois desses textos (detesto as classificações: crônicas, artigos.... pra mim tudo é texto, desculpem-me.) um fala de pipoca. outro de escutatória, como inventou o rubem. tomo a licença de colocar aqui um trecho do texto com título “a pipoca”:
“Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.”

No texto “escutatória”, ele fala da importância do ouvir. e da importância do silêncio. desse nem dá pra reproduzir um trecho só. esse texto me tocou profundamente. vai tão ao encontro do que penso e da minha necessidade atual de silêncio... chorei ali mesmo, na mesa da cozinha (eu tenho mania de ler enquanto como). chorei de beleza. de não conseguir conter tanta poesia, tanta verdade. chorei porque depois de ler, tive um instante mágico: vi a incrível beleza que me cerca. o vaso de plantas no passa-prato. as garrafas vazias e transparentes enfeitando minha cozinha. os momentos de silêncio operoso em que arrumei minha cama e a de minha filha, em que lavei os pratos. e tive tanta gratidão...
ainda estou sob o efeito dessa magia. nesse momento, tudo me comove. porque tudo é belo demais. e o meu cálice transborda...

(esse texto é de ontem. mas minha internet tava fora do ar...)

28.4.06

meu calhambeque, bip-bip

postar às 9h da manhã é mesmo um luxo. mas não tem a poesia da noite, claro.
li esses dias um texto da martha medeiros sobre uma mulher que procura um lugar para chorar, dentro de seu carro e não encontra onde possa estacionar. aí chora com o carro andando mesmo. dizer que o texto está bem escrito é redundância. a martha (desculpe a intimidade) é hoje minha escritora favorita. ela fala do cotidiano, nos põe pra pensar a vida em curso. nos retrata, nus e fáceis como crianças.
isso de chorar no carro é um hábito antigo meu, principalmente depois que me casei. e mais ainda depois que tive minha filha. saio pelas ruas pouco movimentadas, andando a vinte por hora, deixando vazar aquelas mágoas pequenas ou grandes que ficam pingando por dentro e terminam por sufocar. aí libero o dilúvio e a sensação de alívio é avassaladoramente boa. é uma euforia pós-parto. pra mim, que tenho tanta dificuldade de demonstrar o que sinto, são momentos preciosos. dentro do carro choro alto e soluçado, dolorida e piegasmente. tenho uma amiga que também usa este veículo (trocadalhinho...).
por isso quando passar por um carro onde uma mulher se acaba de chorar, faça cara de parede e finja que o quadro faz parte da paisagem. e, na verdade, faz. dessa paisagem onde mulheres que choram não recebem promoção (é emocionalemnte instável), geram culpa na família (olha o que você fez com a sua mãe!) ou passam por frágeis (tadinha dela, não agüenta pressão...).
se você nunca chorou no carro, experimente. e experimente também ler martha medeiros. assim até dá pra ser feliz.

25.4.06

deixai vir a mim as criancinhas. mas não agora.

em frente à mesa onde escrevo agora, pregado na parede, tem um desenho da minha filha - um que ela fez pra mim. o desenho mostra nós duas de costas para quem olha o desenho e de frente para um parque de diversões. ela aponta para uma roda-gigante e eu para uma montanha-russa. eu não levei minha filha a este parque. eu também não a levei a pelo menos 5 filmes que ela quis ver nos últimos meses. nem brinco com ela tantas vezes quantas ela pede.
fico pensando que máscaras ela construirá para se defender dos meus nãos. de que material serão feitas, para que ela enfrente os outros nãos que enfrentará pela vida. que resistência oferecerão às muitas frustrações. e quanta infelicidade também encobrirão.
um dia ela vai descobrir que muitos dos seus sorrisos, que grande parte da sua postura, que essa ou aquela indiferença não são realmente suas. são máscaras, defesas. mentiras inúteis. sei que as coisas não deviam ser assim, mas também sei que isso é usual. todos tentamos nos defender da dor desde muito cedo. alguns de dores profundas, causadas por pancadas pesadas. alguns de dores banais. mas não sei se para a criança existe diferença entre elas. chora menos a criança que não foi ao parque do que a que apanha de um pai? no mundinho delas, as dores se diferenciam? claro que não falo da dor causada pela loucura de muitos adultos, de suas paranóias e demônios, mas dessas cotidianas e comezinhas. qual é o tamanho da tragédia infantil?
tenho trabalhado - ou tentado trabalhar - com minha criança interior. ela tem uma dor tão grande que eu ainda não ousei encarar. no entanto, não tenho lembrança alguma de um fato especialemtne trágico ou doloroso na minha infância. talvez tenha tomado alguma sombra por fantasma, não sei.
e assim oscilo entre a criança que tenho dentro de mim e a que crio. ambas precisam do meu equilíbrio, da minha maturidade. e tudo que eu tenho feito é dizer não. a ambas.
de novo: culpa, culpa, mea maxima culpa.

24.4.06

pouca pompa e muita circunstância

hoje fiz 12 anos de casada. tanta coisa.

pelo ouvido

fiquei sem internet outra vez. tá parecendo piada, já. uma empresa, não sei se a br telecom, teve que fazer um reparo numa central telefônica aqui perto e ligou outra linha telefônica ao meu telefone. e com a minha linha, sei lá o que aconteceu. fiquei o feriado todo sem internet e sem telefone. pode? sai, ignorância, desse país que não te pertence!!!!
enfim...
estou lendo um livro que recomendo a quem interessar possa: a fórmula da felicidade, de stefen klein, ed. sextante. não é auto-ajuda, não. é coisa séria. fala sobre como nosso cérebro aprende as coisas. e que é possível aprender a ter uma postura mais tranquila na vida. assim, ó: se vc dá muita moral pra dor, seu cérebro aprende cada vez mais a sentir dor. se vc trabalha no sentido de dar mais valor às coisas boas e prazerosas, seu cérebro vai perceber mais as coisas boas e prazerosas. (eta resuminho bão!). é por aí... vale a pena.


quando ele não me ouviu

ele me vestiu com as palavras que eu não disse.
pesadas, negras, repressoras como um burca
elas me cobriram da cabeça aos pés.
não havia ar, não havia pele.
apenas as palavras não ditas cobrindo tudo de decepção.
não chorei.
apenas recolhi-me ao serralho,
junto com as outras mulheres
a quem a estupidez condenou ao silêncio.
não desisti.
o tempo contornou meu olhos como o kajal.
e até mesmo o tecido grosso da ignorância
se desfaz ao vento.
e ao tempo marcado no meu olhar.

19.4.06

o que eu sou

eu não estou sozinha.
tenho a mim mesma
eu não estou infeliz.
tenho minhas lembranças de felicidade
eu não estou derrotada.
os obstáculos à frente apenas escondem a vitória
eu não estou abandonada.
tenho um Pai que olha por mim
eu não preciso ter medo.
o pior que pode acontecer é ter que começar de novo
eu não tenho que fazer o que dizem.
por pior que possam parecer, minhas escolhas têm a marca da minha história
eu não tenho que me justificar.
assim como todos, busco meu jeito de ser feliz
eu não dependo de escoras.
minhas pernas me suportam e as nuvens me sustentam
eu não digo nada disso pra me convencer.
apenas para reconhecer o que sou sob tantas e diferentes máscaras, exigências e cobranças.
eu sou o que eu sou.
para o bem e para o mal.




(este assunto não acaba aqui. é o começo. mudar é difícil. ainda mais quando se vai contra uma maré forte de preconceitos - que também são meus. viver diferente, fazer diferente é assustador. estou tentando e as primeiras ondas estão me acertando em cheio. tento não cair. certamente cairei aqui e ali. preciso ter pernas fortes. e um coração firme. by the way, atena, você ainda tem aquela oração?)

17.4.06

e não é que eu voltei?

gente-amigos-pessoal-pessoas, tô tão feliz de voltar!!!!! mais que pinto em lixeira.
mudei de casa, de emprego - aliás de status: de empregada para desempregada. até bolo ando fazendo. escrevi pouco nessa longa temporada. e senti muito. voltei a fazer sabonetes e e espremi alguns versos. a época é de contenção. acho que ostras e gatos não gostam de mudar de casa...
mas estou feliz, a casa já tem nosso cheiro (principalmente o dos cachorros que com esta chuvarada não param secos. meu são pet-shop, olhai por nós. e não cobrai tão caro...)
a internet instalada, banda larga, adsl e tudo mais.
meu blog na rua.
meus amigos on line.
tudo certo.
voltei.

6.3.06

bonitinha e ordinária

já que toda a minha vida
agora está em caixas
decidi guardar também
numa caixa
meus pensamentos.
ficou mais pesada que as caixas de livros,
que a dos computadores,
que a dos pirex santa marina.
a solução foi simples:
pintei de mais loiros os meus cabelos.
agora, minha caixa é um balão...

(saudade de vocês, amigos. de todos. até dos que não fiz)

23.2.06

em processo

ainda não mudei. ainda não estou empregada. mas tanta coisa já mudou...
não é linda a capacidade de adaptação do ser humano? é possível viver entre caixas, pedaços de vida embalados em jornal, fechados com fita colante, prontos para serem levados a um novo destino. esta devia ser a forma de vida cotidiana de todos nós: sempre prontos para mudanças. no entanto, ficamos presos à comodidade. acumulamos coisas tão desejadas quanto desnecessárias , espalhamos tudo por um território demarcado como só nosso. e quando a roda da fortuna gira, sofremos por não conseguir acompanhá-la com a rapidez necessária. ou porque não queremos - não conseguimos - mudar.
mas temos um Pai sábio, que não pergunta. nos apresenta o fato e a gente que se vire. é por isso que eu e Ele nos damos tão bem.
difícil, gratificante; amedrontador e estimulante; trabalhoso mas consciente. assim tem sido esse tempo, para mim. e por amis que eu tente, não consigo dar forma de palavras às emoções por que estou passando. não é apenas mudar de casa ou de trabalho. é uma mudança muito maior, da qual essas duas são apenas símbolos.
aguardo e enquanto isso me exercito.
eu tenho uma poesia antiga que começa assim:
"quando há de chegar
aquele que há de vir
quando há de chegar aquilo
que há de ser
quando serei levada
ou quando irei caminhar
e quanto..."
é isso.

12.2.06

mudanças

amigos, estou mudando de emprego e de casa. em plena fase de empacotamento. e depois vem a dos pintores, calheiros, eletricistas, etc. daí que vou dar uma pausa na blogagem. mas é só uma pausa. i'll be back.
fiquem com Deus.

31.1.06

o fim está próximo...

por mais que eu tente ser inteira, independente. por mais que eu tente não me espelhar no que os outros pensam, é impossível ser imune a algumas pessoas. à opinião delas sobre mim. ao que elas sentem por mim. na verdade, é mais isso – o que elas sentem por mim. tenho um amigo de muitos anos. já comemos alguns sacos de sal juntos. ele, de certo modo, me viu crescer. e me ajudou a crescer. tem poucos anos mais que eu. muitas vezes foi meu irmão mais novo. foi também meu irmão mais velho em incontáveis ocasiões. eu sempre senti o carinho e a admiração dele por mim. esses dois sentimentos foram minha mola propulsora numa determinada época. fomos sempre amigos. como dizem as pessoas “só” amigos. sem clima, sem segundas intenções. isso faz tudo ainda mais importante.
já, há um certo tempo, quando o vejo, tenho sentido uma enorme vontade de chorar. choro, depois que nos despedimos. tenho me perguntado por que, e hoje descobri. é que já não sinto nele aquele carinho e admiração. pela primeira vez constato que amizades também morrem. como amores. às vezes, de um lado só. eu estou perdendo esse amigo. talvez eu o tenha decepcionado. talvez eu não seja quem ele pensou. talvez eu tenho mudado. não sei. como também não sei dos amores que perdi. há uma razão? só sei que vejo esse amigo indo embora. e a nossa amizade, morrendo devagar e quietamente. quis falar com ele sobre isso hoje. não consegui.
isso acontece num momento em que ele está mais uma vez me ajudando, apostando em mim. contraditório? essa é a essência humana.

30.1.06

o segundo passo

eu estou de viagem, bagagem pronta, olhar faminto de paisagens.
estou com sapatos fortes, roupas confortáveis e
minha mochila leva pouco mais que o essencial.
levo chocolates, que vão derreter sob o sol
e congelar no ar frio da noite.
levo memórias e um diário.
levo fotos e um pedaço do bolo da minha avó.
levo músicas do tempo que eu era jovem e outras que me ajudam a envelhecer.
não posso levar companheiros
mas eles vão seguindo pela estrada ao lado.
levo o perfume preferido da minha mãe,
uma antiga pulseira do meu pai - feita de um dólar de prata.
levo o sorriso de um irmão, o trejeito do outro
e minha mania de fazer piada de tudo (acho que é da família inteira).
nos calcanhares me persegue uma depressão,
mas eu já aprendi a mantê-la longe o bastante.
agora sou estrangeira, forasteira, de fora, uma estranha.
que deliciosa sensação.

27.1.06

tudo que eu queria

publico a coluna da cora ronái, de o globo. isso que os imigrantes queriam também é tudo que eu quero. eles não conseguiram. eu tenho esperanças (essa alice pollyana que não me deixa...).

Um corte de linho,
por Rachel de Queiroz

Estava na casa da minha irmã quando, por acaso, resolvi remexer uma pilha de revistas velhas. Uma delas era a edição de 12 de abril de 1952 de “O Cruzeiro”, onde, na última página, Rachel de Queiroz assinava a sua crônica habitual:
“Recebi ontem um presente que me deixou comovida: um corte de linho tecido por meus amigos húngaros da Ilha do Governador. A fazenda é perfeita, só não parece linho irlandês porque é mais bonita, tem aquele jeito pessoal e inconfundível que marca a obra do artesão, sem a uniformidade, a falta de caráter e de vida do trabalho em série.
Faz cinco anos que eles chegaram ao Brasil, exaustos da guerra e dos nazistas, em busca de trabalho e de paz. Pela bitola do serviço de emigração, creio que não passariam por bons emigrantes: eram gente urbana, dois homens e quatro mulheres. A palavra certa para os chamar é mesmo intelectuais: não tinham costume de lidar no campo, não eram profissionalmente operários ou técnicos. A idéia é terrível, mas verdadeira: intelectuais! Amam os livros e os lêem, a parte mais importante da bagagem que trouxeram era isso mesmo, livros. Têm atrás de si uma longa ascendência de letrados, e chegam a possuir um irmão muito ilustre, que honraria qualquer república de letras e é hoje uma das colunas mestras da nossa. A própria profissão do falecido pai da família era de livreiro.
Pois chegaram esses viajantes de terras de além, fixaram-se numa casa modesta da ilha, e puseram mãos ao trabalho. A idéia era montarem um tear, a fim de produzir pano grosso, ou mais propriamente essa entretela que os alfaiates usam para enchimento, a qual é feita com crina de cavalo e é uma indústria típica de artesanato, segundo a praticam lá na pátria de onde vieram. Construíram, eles próprios, o primeiro tear, todo em madeira. Tinha qualquer coisa de primitivo e bíblico aquela estranha máquina que a gente via, roncando na pequena oficina improvisada ao fundo do quintal. A urdidura era armada em grandes painéis, a agulha mordia o fio da crina, a lançadeira corria dum lado para o outro. A entretela saiu boa —- parece que não é produto para se fabricar em série, e assim não sofre a concorrência das grandes fábricas —- achou mercado franco. Era uma das moças que vendia diretamente aos consumidores, porque os homens confessam que ‘não têm jeito para negociar’.
E então fez-se o segundo tear menos primitivo, mais sofisticado. Terceiro tear veio depois, logo o quarto, e agora já lá estão cinco trabalhando. A fabricação de entretela ampliou-se. Entraram a produzir tecidos mais finos, o bom gosto começou a se introduzir no trabalho, como compete a toda boa obra de artesão. Com pouco tempo as senhoras da casa só vestiam vestidos feitos com os panos da fabricação doméstica. E agora estão fazendo linho, tecido de rei, belo e impecável: e no casamento de um dos irmãos (os dois últimos solteiros já se casaram aqui no Brasil), toda a família foi ao pretório —- inclusive a noiva —- com roupa de linho fabricado na oficina de casa.
Não é uma beleza? Não consola a gente ver como são grandes e inesgotáveis os recursos de alma dos homens? Cito este exemplo, especialmente comovida. Primeiro porque eles são meus amigos, e a segurança com que eles se estabelecem e prosperam aqui é grata ao nosso coração. Depois porque, meu Deus, não são candidatos a Matarazzo, não pensam em ser reis da entretela —- querem apenas viver, com decência e tranqüilidade; trabalham apenas para conseguirem a vida que, por direito de nascença, cabe a todo ser humano: garantir a subsistência de cada dia, e usar o resto das horas livres lendo, estudando, escutando música, tratando das flores do jardim, tomando banho de mar, criando cachorros. Dignidade e segurança, é só o que eles almejam.
E pode-se dizer que já o conseguiram. Este corte de linho, que tenho pena até de mandar cortar para um vestido, é bem um símbolo de tudo que eles já realizaram em apenas cinco anos. E as autoridades emigratórias que não se assustem tanto, quando escutam dizer de um candidato a brasileiro que ele não é lavrador nem vaqueiro, apenas um intelectual. Intelectual não é sinônimo de portador de moléstia ruim. Nem os intelectuais são tão indesejáveis quanto parecem. Têm, ao contrário, muita coisa em comum com este país onde vieram se abrigar, depois da tempestade na Europa: como esta terra do Brasil, em se querendo plantar, eles dão para tudo.”

***
A noiva vestida de linho era, nem preciso dizer, minha Mãe; e os hábeis tecelões, o que restou da família de meu Pai. Infelizmente, o futuro não lhes sorriu como previa a crônica; quando a pequena fábrica começou a crescer, foi massacrada sem remorsos pelos grandes fabricantes de tecido, que viram com olhos menos poéticos do que os de Rachel de Queiroz a saga daqueles imigrantes.

26.1.06

pausa

preciso de um minuto
pra recompor o quadro.
não vá embora para sempre.
eu volto logo.
tomara que você me reconheça

24.1.06

tem uns que sabem.

Gente, esse texto aí embaixo foi escrito por um homem. Era pra ser ou foi de fato para um anúncio. Achei demais. O tal homem trabalha comigo e também é publicitário.
Valdeir. Junior.
Foi o cheirinho.

“Agora é que você vai ver”, minha mãe já me alertava. Eu, claro, nem aí. Só queria saber do enxoval do bebê, receber os mimos do maridão, responder às perguntas das amigas não-mães, enfim, extrair alguma diversão daquilo. Eu precisava. Qualquer um precisaria depois dos enjôos, dores, deformação do corpo, roupas que já não serviam mais. Aí ela chegou. Estávamos jantando. Nem tive tempo de tocar na sobremesa. E olha que eu adoro musse de maracujá. Dor, homens e mulheres de branco, anestesia, confusão, choro. Meu e dela. Ela nos meus braços e o cheirinho. “Agora é que você vai ver”. Eu vi. E foi ótimo.

tanta pressa

eu só queria ser um pouco louca
pra não aceitar que a vida passe tão depressa
e eu tenho pressa, eu tenho pressa, eu tenho pressa
de viver.

eu só queria ter o golpe exato
pra mandar o que é ruim pro espaço
e só saber do que me é e dá prazer
e eu tenho pressa, eu tenho pressa, eu tenho pressa
de viver.

eu ando rápido, bem mais rápido que o tráfego
eu corro e minto
bem mais alegre do que o sátiro
eu rodo em vão nos vãos dos meus espaços

eu tenho pressa
eu tenho febre
e não tem essa
deixe que me levem

eu sou menina
tenho a vida breve
e leve
e leve
e leve...

23.1.06

combinações dos sentidos

sol e boné.
maresia com coppertone.
peixe com limão.
sal e picolé kibon.
areia com maiô.
vergonha com celulite.
toalha com barriguinha.
óculos com óleo de bronzear.
azul com azul.
ardor e frescor.
espaço e desejo.
manhã e calor.
rede e brisa.
livro e soneca.
camarão e moqueca.
sonho e despertador.
era uma vez um trio de loucas. uma queria vender tomates na feira. a outra queria fazer sabonetes e vender na feira. a outra queria ser dona da feira. uma tarde se reuniram pra criar um projeto: uma barraca de feira ambulante. iam encher ela de turistas e fazer excursão pelos pontos cardeais da cidade. todos os turistas vestidinhos de feirantes, uma gracinha. as três loucas investiram tudo que tinha no projeto: tempo, marido, filhos, amantes, namorados, mesada de mãe, empréstimo de tia. aí, projetaram, projetaram, projetaram, até que convenceram um dos Homi a bancar a barraquinha da alegria. e lotaram a bufa de money. eu disse que eram loucas, não disse? pois então: uma comprou tudo em tomate, a outra em glicerina e a outra... em feirante (tinha um japonês de olho azul...). e pelo menos duas montaram blogs.

21.1.06

ambição demais

talvez seja verdade
meu desejo por uma vida perfeita.
vida de eleita.
onde tudo se encaixe,
tudo se deixe abraçar.

uma vida de liberdade,
sol e vento,
dormindo tarde,
acordando ao sabor das ondas,
me desfazendo
no calor da areia

vida de trabalho duro
de prazer intenso
de amores puros
de olhar atento
de mãe e filha,
de mulher – maravilha,
girando, girando,
até me transformar
em nuvem.

relógios

o tempo que passou me dói
como um membro amputado
lateja, sangra, coça
sente cócegas o danado.

o tempo que passou
pra mim
continua passando
pulsando
suando
cursando
batendo.

o tempo que passou é frágil
como a pele das velhas lembranças
mas ainda é meu
e isso eu não me perdôo.

o tempo devia passar
como passam algumas pessoas,
e os navios, e os aviões.
fazem riscos no som,
cicatrizes na água,
jardins e desertos na alma.
mas se vão.
para sempre, como se não tivessem sido
parte do tempo passado.

20.1.06

Joni Mitchell

Both Sides Now

Rows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere,
I've looked at clouds that way.

But now they only block the sun,
They rain and snow on everyone
So many things I would have done,
But clouds got in my way.

I've looked at clouds from both sides now
From up and down and still somehow
It's cloud's illusions I recall
I really don't know clouds at all

Moons and Junes and ferris wheels,
The dizzy dancing way that you feel
As every fairy tale comes real,
I've looked at love that way.

But now it's just another show,
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know,
Don't give yourself away.

I've looked at love from both sides now
From give and take and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love at all

Tears and fears and feeling proud,
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds,
I've looked at life that way.

Oh but now old friends they're acting strange,
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day.

I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

I've looked at life from both sides now
From up and down, and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

ah, se ele me desse bola...





EMERGÊNCIA
Mário Quintana

Quem faz um poema abre uma janela
Respira, tu que estás numa cela
abafada, esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

19.1.06

afinidade

recebi o texto abaixo da minha mestra da resiliência. é um texto lindo, mas é mais importante porque foi ela quem enviou. e ele conta de anos e anos de amizade, de risos e choros, de tardes de preguiça e segredos divididos na noite. lembro de nós duas debruçadas à janela do quarto dela (onde eu morei tanto tempo), no oitavo andar, conversando, e sendo o que primas-irmãs nem sempre são: amigas. o texto fala também de separação, porque eu vim pra minha cidade, e ela ficou na dela. mas nossas histórias nunca deixaram nem vão deixar de se cruzar. mesmo que nunca seja muito tempo.
AFINIDADE
Arthur da Távola
Não é o mais brilhante, mas é o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. Não importa o tempo, a ausência, os adiantamentos, a distância, as impossibilidades.
Quando há AFINIDADE, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto de onde foi interrompido.
AFINIDADE é não haver tempo mediante a vida. É a vitória do adivinhado sobre o real, do subjetivo sobre o objetivo, do permanente sobre o passageiro, do básico sobre o superficial. Ter
AFINIDADE é muito raro, mas quando ela existe, não precisa de códigos verbais para se manifestar. Ela existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixam de estar juntas.
AFINIDADE é ficar longe, pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem, sensibilizam.
AFINIDADE é receber o que vem de dentro com uma aceitação anterior ao entendimento.
AFINIDADE é sentir com... Nem sentir contra, sem sentir para... Sentir com e não ter necessidade de explicação do que está sentindo. É olhar e perceber.
AFINIDADE é um sentimento singular, discreto e independente. Pode existir a quilômetros de distância, mas é adivinhado na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.....
AFINIDADE é retomar a relação no tempo em que parou. Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram. Foi apenas a oportunidade dada (tirada) pelo tempo para que a maturação pudesse ocorrer e que cada pessoa pudesse ser cada vez mais.

18.1.06

o nome de uma outra

escolhi maria
porque o nome principia
na palma do meu chão

nome simples sem valia
quem o tem
é à revelia
que ninguém quer ser Maria
num mundo só de João

seria Maria operária
escalavrando palavras
faxinando sentimentos
desinfetando emoções
cozinhando amores
amassando o passado
embalando o futuro
criando poemas para soltá-los no mundo

Maria sem fgts, nem salário mensal
sem canção de soldado, nem samba, ou carnaval
só uma Maria vai com as outras
tecendo teias de afetos e versos

17.1.06

presentaço


eu não ligo muito pros meus aniversários. dr. freud explica. depois. mas tem uma coisa de que eu gosto muito: os abraços. abraço de amigo é muito bom. claro que tem os que são simplesmente... regulamentares. esses eu tomo pelo que são. e tá bom. os outros, no entanto, aqueles que trazem o calor e o desejo de felicidade; os que tocam a alma e acendem velas; os que vêm embrulhados em amizade profunda... são meus presentes. eu nem ligo que os amigos esqueçam a data. eu vou até eles e peço o abraço. não sou pobre orgulhosa. hoje, daqui a pouco, estou indo pra casa dos meus pais. vou comemorar junto com a família. li num blog - acho que da ella - que os aniversários pertencem às mães. concordo e estendo aos outros amores da minha vida. e todos estarão lá, no ninho. ai, que bom!
parabéns para mim,
parabéns para mim...

16.1.06

frágeis

ondas
quebram-se
copos
quebram-se
bolsas
quebram-se
vontades
quebram-se
ossos
quebram-se
espíritos
quebram-se
janelas
quebram-se
tatyanas
quebram-se

14.1.06

...

eu fico procurando em filmes, músicas e textos, profundidades, entrelinhas. nem todos têm. nem todos têm que ter. eu é que procuro respostas como quem garimpa ouro, como quem escava minas à procura de diamantes. eu é que não respiro direito o ar e o sol apenas porque não sei as minhas respostas...
nenhum avião vai surgir no céu e escrever à fumaça: assim é...
nenhuma estrela cadente vai deixar como rastro luminoso o alívio de um porque.
o que espero está onde não alcanço, ainda que me retorça, ainda que me estique, ainda que me embole e soluce. está dentro e fundo.
preciso parar – 5 minutos, 5 dias, todo um ano – para visitar lugares em que não fui.
mas parar já é uma resposta. outra que não posso me dar agora.
estou cansada: há tantas imposições.
sou peixe, meu mar é a liberdade e continuo nadando em círculos no aquário.

One art

Elizabeth Bishop

"The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster, s
ome realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster."

13.1.06

parênteses

ando precisando de um pouquinho de abraço
que é pra apagar o traço
dessa mão em vão no ar
(solidão)
ando procurando só um pouquinho de carinho
que é pra me sentir no ninho
pra não me sentir sozinho sem lar
(solidão)
ando me escondendo
e me achando nesse espelho
que é velho mas tão belo
(meu coração)
ando me espalhando
me aprendendo e me amando
apesar de ser tão falha
tão amarga e tão clara
(minha escuridão)

ando em gerúndio
tão sincero e tão profundo
movimento modernista do meu eu
não me encosto em particípio
porque parto do princípio de que o amanhã ainda é meu.

ando
e é o que importa
sou passarela, não sou porta
estrada longa e torta
ando, não estou morta.
e fim.

12.1.06

diálogo

deixa, sussurra o desejo.
não posso, reage a razão.
se solta, propõe o desejo
me perco, foge a razão.
te acho, insiste o desejo.
e se não?, sorri a razão
enlouqueço, enrouquece o desejo.
então vem, suspira a razão.
eu te amo, entrega o desejo.
talvez sim, entristece a razão
- talvez não.
eu não minto, endurece o desejo.
mente sim, brinca a razão.
só um pouquinho, admite o desejo.
não me importa, murmura a razão

utilidade pública

alguns vários amigos-irmãos-camaradas têm escrito pro meu e-mail dizendo que vieram ao blog, acharam legal, coisa e tal. mas que não sabem como mexer aqui. bom, então, em causa própria, mais do que pública, dou as dicas: você lê o post (a mensagem) do dia. aí logo abaixo da mensagem tá escrito comments. você clica e aparece um espaço pra você deixar seu comentário, mensagem etc. você coloca seu nome ou qualquer coisa que quiser (mas, por favor, que me permita identificá-lo). e clica em publicar. pronto. você pode fazer a mesma coisa em posts de outros dias. na lateral direita do blog tem o título de outros posts (previous posts) e aquelas datas abaixo (archives) enviam você pra posts mais antigos. também na lateral estão os links, que mandam você para outros blogs, de amigos meus ou apenas blogs de que gosto, mesmo que não conheça quem bloga. é isso. não tem segredo. pode mexer à vontade, você não vai detonar meu blog. se alguém ler esse post e quiser acrescentar informações para os neófitos, fique à vontade.pra falar a verdade, até outro dia eu era só visita no blog dos outros. ainda estou aprendendo a lidar com o meu. mas a todos eu peço: vez em quando, deixe um recadinho de que esteve aqui. afinal, publicar um blog é também compartilhar . e compartilhar com ninguém é meio chato.

11.1.06

amigos

amigos.
são belos e quentes,
maçãs do pecado,
hóstias da redenção.
são portos, navios,
estradas, pavios
explosão.
amigos fazem a diferença
e a igualdade,
nos colocam frente a frente
com nossa insanidade.
torquês, alicate,
faca, enxada, formão.
a mão que esculpe,
a boca que cala,
amigo, irmão

10.1.06

é amiga das horas, prima-irmã do tempo

muita gente acha que solidão é tristeza, abandono, sofrimento. nem sempre. às vezes, é agradável, acolhedora, repousante. o ruim e o bom quem determina somos nós, nossas expectativas. e nossas escolhas, claro. para mim, o sofrimento vem quando não se pode optar. quando, apesar de desejar muito alguém com quem conversar, compartilhar, não temos ninguém. não é a solidão que dói. é o desejo de não estar só.


então.

então,
solidão é assim...
um ano novo que começa entre fogos e abraços
então,
se sentir inteiro começa assim
uma certa tristeza e ao mesmo tempo uma inteireza,
uma certeza de que sempre foi assim.
no ano novo que vem
já seremos velhas conhecidas
eu e essa solidão.
nos faremos companhia,
comeremos juntas cada porção da ceia,
nos abraçaremos e a todos
desejaremos um feliz ano novo.
e o ano novo será feliz de novo
porque entre eu e minha solidão
não haverá mais estranhamento.

9.1.06

para todo mal a cura

tenho uma pessoa-irmã-amiga que teve câncer. operou e tirou o dito cujo. agora está em tratamento. é um mulherão, ossos largos, magra, olhos verdes e o nariz mais perfeito que eu já vi. por dentro é ainda mais linda. luminosa mesmo. mas é também firme e briga que é uma beleza. eu nunca vi alguém tão brava e tão doce. ela já levou muita pancada da vida. não parece. absorve cada golpe. tece em torno dele um casulo de seda. até o dia em que eles vira borboleta e se vai...
mas, em algum momento, a metamorfose não se deu. alguns casulos endureceram. e contaminaram células com essa surda revolta interna. um motim. viraram tumores, bravios, corrosivos. foram detectados a tempo e extirpados . hoje, a minha querida caminha para a cura definitiva. não tenho dúvida disso. naquele meu olimpo, ela acupa um lugar especial. é minha deusa da resiliência – um termo bem moderninho pruma antiga qualidade humana. e que ela tem de sobra, inclusive pra me ensinar.

(fiz um verso pra você,
mas era pequeno demais
pra tanto amor.
desisti.)

do baú

esse fim de semana dei uma olhada no baú. tinha uns textos de que ainda gosto. vou postar alguns. pode parecer coisa de preguiçoso, mas não é não. eles continuam valendo. nesse mundo interior paralelo, o tempo não corre. passeia entre as flores, colhendo frutas silvestres, conversando com abelhas e andarilhos. ou arrastando correntes por corredores infindáveis. uh-uhhhhh-uh!
esse aqui é uma amostra. inclui o ps. foi assim que me senti sobre o texto na época. hoje, não penso mais assim. na verdade é quase recente, data de meses. foi assim que saí de um emprego estável (?), bem remunerado, para ficar em casa fazendo outras coisas. um dia conto essa história.


a decisão mais difícil foi deixar pra trás meu porto seguro, meu casco de tartaruga, meu abrigo.
não me arrependo, embora às vezes me arrebente de preocupação. Se o preço foi caro, o produto vale a pena: meu tempo. Menos dinheiro, menos “vantagens”, mais vontades...
Repito: valeu a pena.
Já pensei se foi fuga, se era enganação, medo... Foi escolha, agora eu sei. Minha tranqüilidade é a testemunha de defesa e a consciência não me acusa mais.
Estou aprendendo novos fazeres, talvez mais simples e braçais, mas há tanto tempo ignorados e necessários...
volto ao tempo, sobre meus passos – passos que me recusei por toda a vida.
atrás de mim, gerações de mulheres me auxiliam. As mulheres fortes de minha família, todas rápidas em silêncios, serviços e respostas. Mulheres dominadoras, autoritárias doces...
Mulheres cozidas em fogão de lenha, sentimentos apurados nos tachos de cobre, ressentimentos e orgulhos passados a ferro em brasa...
Ancestrais, índias, caboclas, madames...
Na panela, água a ferver no fogo, para enganar as visitas da fome que lhes queimava o estômago. Mulheres que suportaram dores físicas, morais, angústias de paixões fortes quase nunca à altura correspondidas. mas quem haveria de conseguir? No meu sangue suas células me contaminam com um feminismo arcaico, que vê a injustiça enquanto esfrega o chão sujo das botas dos machos.
Donas que não se dobravam nem ao chicote, nem às traições. Que não reclamavam senão a ouvidos parentes. Que sofreram a solidão profunda dos orgulhosos. Mas que criaram filhos, netos, sobrinhos com amor sem peias. Talvez não houvesse carinho nas mãos dessas mulheres, mas o seu amor se derramava nas panelas cheias, nas mesas fartas, nas roupas limpas, no vai-e-vem das máquinas de costura e das facas a descascar laranjas incontáveis.
Dessas mulheres tenho exemplos e retratos. Tenho olhares marcados nas fotos e entrevistos nas faces das que me rodeiam.
Terei também eu esse olhar?
Busco agora sua ajuda, enquanto ensabôo um prato ou aprendo a lavar roupa; enquanto puxo com o rodo a água do quintal, enquanto faço prato e carinhos para minha filha, a próxima dessas mulheres, eu acho.
Então não me arrependo de ter saído de lá e vindo para cá, aqui onde elas me acolhem e me ensinam que a magia é feminina e singular.

(esse texto mistura idéias. é exagerado, canastrão, e precisa ser refeito)

5.1.06

dos dois lados

faz muitos anos que eu estou tentando me apaixonar por ela. acordamos juntas todas as manhãs. à noite deitamos juntas na mesma escuridão. tento conhecê-la, admirá-la. tento contorná-la - em vão. nossos encontros, cada vez mais intensos, são pontuados por discussões. eu sempre a agrido. e ela chora.
sei que ela é o que pode e que minha absurda exigência é o que a faz pior. eu também choro. não aceitá-la como é vem devorando lentamente minhas forças.
invento vergonhas por ela. imagino o que os outros falam. vejo recusas por toda parte. culpo a ela e só a ela por minha solidão. se ela fosse diferente, eu não seria assim. às vezes, a odeio.

...

não me importo com o que ela pensa. eu sou o que eu sou. pouco, muito... tanto faz. nem melhor, nem pior do que ninguém, isso eu sei. tenho tanta pena por ela ser tão só e não perceber que bastava um gesto... uma admissão. não vou ser outra apenas pela vontade dela. isso não é amor, é submissão, humilhação. eu não mereço. nem preciso. eu tento, eu aprendo. ela fraqueja e sempre insiste na ilusão. estou crescendo, é só o que quero. gosto cada vez mais do passo e do caminho em que escolhi andar. olho para ela, tão amarga, ao meu lado, sem querer estar. eu a liberto, mas ela não tem a coragem de ir.
ela me odeia. eu choro. choramos juntas e ela não sente a minha dor. ela nem percebe que, lentamente, minhas asas crescem.

4.1.06

no porão do seu medo.

no buraco escuro da minha dor
eu leio
lâmpada acesa sobre o ombro
olhos itinerantes sobre o papel.
você, escondido à sombra, me contempla,
me examina, me julga.
nessa hora, sou o reflexo do seu medo.

você é feliz?

quando alguém me faz esta pergunta, a resposta sempre pronta é um sim.
embora tenha meus maus momentos, conflitos etc, sempre achei que a felicidade era um rio correndo por baixo de tudo que acontece. uma felicidade subjacente.
a rita me perguntou: então por que você não pula nesse rio, não mergulha nele? por que ficar sempre à margem?
ainda estou por responder. mas tenho pensado muito (loira pensando: perigo, perigo!). eu não me sinto infeliz. triste, confusa, perdida, solitária. mas também caminhando, forte, inteligente, capaz.
só tenho certo receio de que isso seja outra forma de fugir da pergunta essencial. um cachorro correndo atrás do próprio rabo. (por falar nisso, eu tenho um cachorro. ele também é loiro - tá bom: champagne. e quando está frustrado ou com raiva, enfim, quando surta, fica girando feito um louco atrás do seu apêndice posterior. uma graça! nessas horas, sinto que há uma ligação cósmica entre nós...)
eu gostaria de ser tão lúcida quanto pareço.

3.1.06

meu olimpo particular

Desde pequena eu tenho uma enorme atração pela Grécia e seus deuses.
Dona Benta, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, (a dos livros, não a da tv) soube também me conquistar por aí. Os Doze Trabalhos de Hércules, O Minotauro, História do Mundo para Crianças, me trouxeram um universo paralelo, mais intuído que compreendido. Bem mais tarde, minha amiga Atena me fez perceber outras conotações nessas histórias. E conto tudo isso pra justificar meu apego aos deuses do Olimpo. Adoro a humanidade deles. Eles é que foram feitos à imagem e semelhança dos homens. Isso, a mim, dá a medida da nossa divindade. Se é possível ser deus e ser humano, então... Peguei a idéia desses deuses tão perfeitos em suas falhas e acertos e criei meu próprio panteão. Ali estão pessoas preciosas – a quem devo tantas oferendas pelas dádivas que delas recebo:
Heloísa, uma amiga rara e cara. Seus exemplos, suas palavras me provocam coragem e força.
A deusa Goya, tão linda, me ensina sobre o amor incondicional, sobre alegria, sobre superação. E sobre auto-estima inabalável.
Ademar, o deus dos abraços infindáveis, onde me sinto abrigada, amada e querida.
Luiz, um deus vicking perdido entre os mortais, cheio de fúria e graça. Ele assusta a muitos (é terrível em sua fúria!), mas com ele aprendi disciplina, auto-respeito, e a fazer das palavras poesia e ganha-pão.
Não os venero - não como se veneram deuses. Adoro cada um deles como amigos de quem recebo graças. Se bem que, de vez em quando, bem que eu peço alguns milagres...
Há outros – alguns com quem não tenho mais contato, outros que estão chegando agora. Serão citados em gratidões futuras.
Hoje fico apenas nesses. Preciso confessar que não escrevi isso para lhes fazer homenagem. Foi só pra senti-los mais perto. E recordar e me envolver de tudo mais que eles são e que eu não disse aqui.