2.5.09

sísifo


quando as emoções se ajuntam
em pilhas altas, maiores que eu,
tento rearranjá-las em poemas,
palavras que lhes dêem uma dimensão mais real.

quando as emoções gritam dissonantes
tento lhes dar algum ritmo
ainda que seja o das linhas
que se quebram num texto menos confuso.

nem sempre, no entanto,
isso chega
a mudar a dor que provocam
ou a grandeza e imensidão
que lhes são próprias e não me cabem.

talvez aí me sinta mais poeta,
discplicente embora nas minhas rimas pobres
ou na total ausência de coerência e forma.

esse texto é a prova final,
de que por mais que eu tente,
quando as emoções são tantas,
elas dominam o que tenho de mais lógico,
e me deixam exausta como um operário de obra,
a erguer paredes e fundações
que não se sustentam.

talvez neste momento,
o único a me entender verdaderiamente fosse
uma figura mitológica,
empenhado em empurrar ladeira acima,
a pedra que sempre volta
sem jamais chegar ao topo
de qualquer mínima verdade.





Diz a lenda que Sísifo era filho do rei Glauco de Corinto. Sísifo desafiou os deuses espalhando os seus segredos. O castigo imposto pelos deuses a Sísifo foi o seguinte: Sísifo teria que carregar uma pedra enorme até ao topo de uma montanha, no entanto, sempre que estava quase a chegar ao seu objectivo a pedra voltava sempre a rolar pela encosta abaixo, o que o obrigava a fazer tudo outra vez, por toda a eternidade.