8.7.06

delírios


imagine que você está deitado, descansando. aí um som começa a entrar pelo seu ouvido esquerdo. segundos depois, outro som, distinto do primeiro, alcança seu ouvido direito. e outros sons vão vindo. ao mesmo tempo, há uma sensação em seus braços, outra em suas pernas. seu coração se alegra, se entristece e se angustia. seu cérebro dá voltas, diferentes sabores se fazem sentir em sua língua, cheiros diversos atraem seu nariz.
é assim que me sinto agora, nesse momento, nesses dias. se o universo conspira a meu favor; se deus me envia seus recados por mensageiros inesperados; se os anjos falam comigo em sua linguagem simbólica; se demônios me tentam sorrateiramente, tudo isso está acontecendo ao mesmo tempo. sou pouca para tantas informações. sou pequena para tantos conhecimentos. e sou ínfima para tanto merecimento. deus, o universo, os anjos e os demônios querem que eu cresça, amadureça, mude, melhore, me torne eu mesma em alto grau. ou querem outra coisa, mas que assim entendo. é tudo muito bom, muito intenso, e muito dolorido.
acho que estou recebendo uma massagem cósmica. ou enlouquecendo.

3.7.06

sol, cama e feijão

não há trégua, só luta.
não há repouso, só reparação.
a praia, o clube, o fim de semana,
tudo ilusão.
fazer amor devagarzinho, enquanto as crianças estão no vizinho.
ou correndo mais que o despertador – que amor!
o dourado do sol
esverdeando na tela do computador
numa luz branca de torturador
até que o cansaço dê o sinal – o dia acabou.
o banho que às vezes confunde : é o da noite ou da manhã?
a pasta na escova, com gosto de ontem e também de amanhã.
a semana passada
pela empregada,
desajeitando a gola, quebrando na manga,
queimando zíper, costura e botão.
e o rola, rala, rela do ônibus
a bola, o bolo, o belo do sábado,
e o tempo espremido
nos intervalos da novela,
no sonho da passarela,
na taça verde-amarela,
até que um dia desses
vai-se bater ponto no céu.