30.12.05

vai!

ser feliz não tem segredo
é só fechar os olhos pro medo
e ir.


feliz 2006 pra todo mundo.

o sétimo ano do sétimo ciclo

acabo de perceber que 2005 foi o último ano de um ciclo de sete. e mais: do sétimo ciclo. 2005 foi, então um ano pessoal bastante místico. eu o vivi de forma talvez irresponsável. no penúltimo dia percebo isso. tenho menos de 48 horas para... o quê? resolver a vida? rsssssssss...
melhor pensar que 2006 é a primeira volta (pausa) da roda da fortuna (pausa) em uma nova etapa. acho que vou pintar o cabelo de vermelho. isso, sim seria uma mudança e tanto.


vai ser assim:


quando eu mudar
venha me ver
me traga doces, flores,
uma cornucópia.
quando eu mudar
me reconheça.
não vou ser outra,
não vou ser a mesma,
bobagem rotular.
apenas venha me visitar.
quando eu passar o que há dentro
para o lado de fora;
trocar a porta,
cruzar a rua;
sair da memória
pra fazer história;
regar o jardim,
criar borboletas;
enfeitar as janelas
com cortinas amarelas;
e só dizer sim ao que for sim.
não se preocupe,
vou te avisar
quando eu mudar.
só não mantenha suas janelas trancadas,
nem as portas encostadas,
nem a cara amarrada.
janelas, portas e caras fechadas
às vezes assustam
filhotes de beija-flor.

29.12.05

passamentos

Ah, o passado...
Tão dentro da gente,
Impossível de ser tocado.

Imutável, nos acompanha a cada dia.
Bagagem que carregamos à revelia
Às vezes quadros que preferíamos não ter pintado.
Ah, o passado...

É bom , é triste
É perfeito porque guardado
E nos faz rir ou chorar,
apenas por já ser passado.

Ah, o passado.
Tão dentro da gente,
Impossível de ser trocado.

...

ínfimo. pequeno. mínimo.
átimo. istmo. súbito.
um momento.
um movimento
do globo ocular.
e ele se foi.
nunca mais.
por tão pouco.

28.12.05

sabático

o sol estatelado, secando o chão molhado pela chuva de ontem, me lembra praia. me lembra férias. o que me lembra que eu só terei descanso em julho de 2006.
ontem, li um texto sobre o sabático. eu tentei ter um. mas durante os 3 meses em que fiquei "sem trabalho" fiz tudo menos parar. esse sonho ainda está atravessado na garganta. deve ser por isso que chorei tanto ao ler a matéria.


dia virá
em que não será mais necessária
a figa, a fuga, a fé.
seremos todos um corpo no mar azul.
o horizonte será enfim porto
o entardecer, o final de um dia morto.
e o que se esconde por baixo das ondas
virá enfim tomar ar.

27.12.05

fogueira

nunca houve paixão
que fizesse brilhar a alma
de dois.
num apenas, pois,
tem a cicatriz de arder.
a paixão passou ao largo,
de medo, talvez de desagrado.
Passou já morta
e fria,
nunca foi fogueira
foi apenas madeira
e, se queimou, foi à revelia.
Amor talvez tenha havido, haja, venha a haver.
Amor talvez não morra,
se há o bastante pra morrer.
mas fica frio o olho, a face, a mão.
Amor sim, mas sem paixão.
Arde a fogueira que havia,
num só, não em dois.
Mas a lenha já esfria.
Onde arde a fogueira hoje,
em breve, ardia.

26.12.05

leve.

eu queria muito ser leve. mas não estou conseguindo. nem na parte física nem na da energia.
o excesso de quilos é fácil de explicar: comer é bom demais. compensa frustrações. engordar é criar uma capa, uma defesa fofinha contra as relações que me atritam.
quanto ao peso da alma... esse é mais difícil. porque está muito lá dentro. inclusive debaixo desse simpático colchãozinho de gordura.
não vou aproveitar a deixa e fazer uma promessa de ano novo. na verdade, novo ele só será quando eu me renovar. e meu calendário interno não costuma sinalizar esses detalhes.
tenho que enfrentar algumas questões sempre adiadas. são doloridas e dolorosas. me fazem medo.
estou me forçando a caminhar no risco, na beira do precipício. a olhar para baixo e ver o tamanho da queda. e a acreditar, também, em todas as possibilidades de vôo. minha máscara da serenidade resiste. não vejo, não sinto, não ouço. e não falo. longos anos de adestramento me garantem fácil a postura dos macaquinhos.
o vento sopra forte, aqui. só o que me consola, talvez, é estar tão perto do céu.

herança.

eu tenho um jeito de chorar pra dentro
não sei onde aprendi.
nas mulheres ancestrais
da minha família, talvez.
nos seus silêncios,
nas suas máscaras,
na sua força.
minha bisavó
colocava água para ferver no fogo,
em várias panelas.
se alguém chegasse sempre ia pensar
tem comida naquela casa.
e havia fome.
tenho um jeito de chorar pra dentro.
deve ser minha versão
pra essas panelas
vazias de comida,
mas cheias de orgulho até a tampa.

23.12.05

cecília 2x+

Retrato
Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo
eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas
eu não tinha este coração que nem se mostra
eu não dei por esta mudança
tão simples, tão certa, tão fácil
em que espelho ficou perdida minha face?

.....................................................................

Mulher ao Espelho

"(...)
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho. "

amen

que todos cresçam.
que palavras duras não sejam mais necessárias.
que as defesas sejam dispensáveis.
que os encontros parem de ser adiados.
que o medo seja risível.
que as lembranças não tenham que doer.
que os amigos sejam próximos.
que os mortos sejam enterrados.
que o deus interno seja descoberto
e que isso seja libertação.
que sejamos íntegros.
que seja fácil ver nossa unidade com o mundo.
que você e eu nos encontremos afinal.
tudo é possível.
que assim seja.

21.12.05

à inocência

uma criança passeia. leva-a pela mão a tristeza. o silêncio da caminhada é interrompido pelas perguntas infantis. ao rosto inocente, a tristeza responde com palavras breves e leve sorriso.
ninguém as impede de ir. andam como quem tem destino, mas ambas sabem que não vão a lugar algum. dão voltas e mais voltas e mais voltas.
contemplo-as com o olho do furacão.



no tempo
existe um lugar
além do pesar, dor e saudade
um lugar talvez cinza
como convém a algumas memórias
lugar de chuva e trovão,
onde o meio-dia não há,
esse lugar existe.
e nele, colina acima, numa construção de pedras
que algum dia seria chamado castelo,
existe uma pessoa que veleja e volta
que chora e espera,
que pratica a magia de desejar.
o vento sopra cabelos selvagens
com a força do tempo.
pessoa e lugar se completam, agrestes, duros e sós.
existe uma pessoa, numa colina, num lugar.
esperando.

19.12.05

pra ficar certo

fiz uma citação, dias atrás, que corrijo e credito corretamente agora:
"todo dom é uma obrigação". o autor é confúcio.
e nada muda no contexto em que foi usada.

envelhescente

me pego reclamando da vida.
meus óculos estão cada vez mais críticos.
impaciente.
impertinente.
envelhescente.

(ao vô aristides do cleber, com carinho. e ao xico que me fez enxergar.)

quem nunca

quem nunca fez uma escolha
de sofia, de carolina,
de lígia, emma ou amélia?
que não deixou um passo dentro
e outro fora, à espera?

quem nunca queimou a ponte,
atrás mesmo de cada passo,
e depois se jogou no vazio,
à espera de voltar no passado?

quem nunca deu adeus às armas,
aos sonhos por quem os sinos dobram
só pra descobrir depois
que no front nada se renova?

quem nunca morreu de tísica?
quem nunca foi tema de canção?
quem nunca morreu à míngua?
quem nunca?
eu não.

17.12.05

meu girassol

fica ali, no canto da minha mesa, um vaso de madeira com um girassol de pau.
vaso azul, cabo verde, pétalas amarelas, miolo laranja.
meu girassol de pau.
uma lembrança, talvez, de um mundo de faz de conta, entrevisto e entreouvido enquanto a vida acontece.
em salas fechadas girassóis de verdade não florescem.
precisam de sol, vento e chuva.
nada que minha vida contenha agora.
eu queria não ter apenas esse girassol de pau.
queria estar plantada em meio ao verde, procurando a luz da vida, braços abertos em pétalas, olhos ávidos para o céu.
cabeça em baixa quietude porque anoiteceu.
meu girassol de pau não tem perfume. (nem sei se girassóis o têm).
mas cheira a coisas de outrora, talvez a conquistas de amanhã.
quem vê meu girassol de pau, se pensa, pensa ‘é só um enfeite’.não sabe que, quietamente, é meu sonho a brilhar na mesa

16.12.05

felicidade é não saber...

ontem, no pathwork, fiz uma lista do que não quero mais na minha vida. e outra do que quero. de fato, a ignorância é a chave da felicidade... tomar consciência do que não se quer e do que se deseja traz responsabilidades. e algumas coisas ainda estão tão distantes.
hoje estou cansada, mas é impossível não pensar, não esperar, não tentar decidir.
vi, nas reações de cada um do grupo do pathwork, que este sentimento é comum a todos. acredito que também o seja a muitos por aí. e eu pergunto: o que estamos nós todos fazendo das nossas vidas?

tudo passa

quando a gente menos pensa.
de um dia pro outro,
o igual se faz diferente
o são fica doente
o ateu vira crente
o lúcido, demente.

passo eu, passa você
passa até o que já é passado
ficando num canto esquecido
deixa de ser vivido
pra ser apenas lembrado.

passa o que é passageiro,
o que já não era sem tempo passar
o que não se quer mais seja visto
o que não se quer mais desejar.

15.12.05

do canto escuro

tenho recebido alguns retornos - opiniões - sobre o fato de ter começado um blog. ouvi que é ridículo; ouvi que sou corajosa; ouvi que é muito legal; ouvi que é desnecessário.
sem dúvida, é uma forma de exposição. pra mim, nesse momento, necessária. sair da introspecção, compartilhar pensamentos não é fácil. mas é preciso atender ao chamado. Disse-me um amigo, citando alguém (Goethe? Sartre? Confúcio?): "todo dom é um compromisso". meu único dom é o das palavras. então, que seja - eu blogo.
o canto escuro
eu estive no canto escuro
onde nada há além de silêncio.
mas a luz de uma risada me chamou.
e eu saí.

14.12.05

máxima, máxima, máxima culpa

tudo que eu não vi
me assombra agora o olhar.
cega, tão cega...
e deixei que se fossem todos –
amigos, irmãos, prováveis presenças.
hoje tão claro;
tão esquivo, então.
o tempo não volta.
voltarão as pessoas?
mais uma vez, nada enxergo.
mas não é a escuridão
que me cega agora.
é a luz a transbordar dos meus olhos.

(aos que deixei pelo caminho)

sobre hades

Muitos amigos têm me perguntado sobre Hades. Se é um deus mau, cruel. Como dizia um amigo: há autor que diz que sim; há autor que diz que não (rs). O texto a seguir é longo, embora eu o tenha "editado". O original está no site http://www.rosanevolpatto.trd.br/homemhades.htm. A autora é Rosane Volpatto. É o que mais se aproxima da minha concepção de Hades. Que Atena me ilumine e me corrija se houver , aqui, algo errado.

HADES, O PROFUNDO
Hades era o deus do mundo inferior, subterrâneo onde residiam os mortos e determinados imortais mitológicos.
Embora Hades parecesse sinistro e frio, não era considerado satânico ou maldoso. Era sim, implacavelmente justo e irrevogável em seus decretos, mas nunca foi inimigo da humanidade e nunca fez mal a ninguém. Seu império é tecido de sombras, frio, trevas e de todas as sensações pertinentes à uma depressão profunda, onde a pessoa é incapaz de visualizar ou agüentar a luz solar da vida cotidiana. Depressões são as iniciações ao reino de Hades, que é compreendido e analisado tanto na psicologia como na tanatologia (estudo da morte).
O domínio de Hades é o inconsciente individual ou coletivo, onde residem nossas memórias e sentimentos reprimidos, que não podem ser mantidos visíveis no mundo superior, assim como tudo que ansiamos em "vir a ser" e também tudo que já fomos.
O espectro da morte nos leva a presença de Hades. Mas aqui não falamos da morte física, mas sim da morte como ruptura de um relacionamento, de nossas esperanças ou de propósitos.
Entretanto, tudo de que precisamos para nos tornar inteiros, encontraremos neste "Vale das Sombras". As sombras do mundo inferior são como os arquétipos, ou seja, são formas que precisam de energia vital, potenciais virtuais que aguardam virem à luz.
Hades é a força do inconsciente que só é valorizada quando se desce até lá. É ainda, considerado o arquétipo reprimido do Pai.

(...)
ARQUÉTIPO DA RECLUSÃO
Reclusão é a palavra de ordem do deus Hades. Ele vivia recluso em seu próprio mundo com as sombras.
O isolamento humano é uma fonte rica de criatividade que pode ser expressa por meio das artes, assim como pode nos levar de encontro à unidade. A reclusão de Hades, pode vir a ser a parte faltante em muitas pessoas que não sabem valorizar as oportunidades de serem introvertidas da maneira que este arquétipo possibilita.
(...)
O HOMEM INVISÍVEL
Hades se tornava um homem invisível quando se aventurava no mundo exterior se utilizando de seu capacete de invisibilidade.
Hades é o arquétipo que preside a vida interior sem emoções e sem palavras. Quando ele é o arquétipo dominante, resulta a invisibilidade social, pois a maioria das pessoas não possui a capacidade de visualizar a sua riqueza interior e geralmente ficam desconfortáveis com sua presença.
NO MUNDO DAS SOMBRAS

-"Hoje não estou legal!". Esta é uma das frases que caracterizam uma das pequenas descidas ao reino inferior de Hades tão costumeiras no nosso dia-a-dia. As pessoas deprimidas sentem-se distantes e separadas de tudo o que tem significado para elas e é bem comum que a percepção da vivacidade e da cor perca-se e o mundo se torne literalmente tomado de sombras. Este tipo de depressão pode estar associado a descida até o mundo interno de imagens e vozes, onde nos confrontamos com as nossas sombras.
A psicologia junguiana nos esclarece que as sombras são todas aquelas partes de nós que são inaceitáveis ou dolorosas que podem ter sido soterradas ou reprimidas no nosso inconsciente pessoal.
O mundo das sombras, entretanto, também inclui elementos positivos que não vieram à tona e continuam nas sombras. Este material corresponde aos tesouros enterrados no plano inferior, associado a Hades.
(...)
Assim como na mitologia, na vida existem pessoas que podem descer e regressar aos domínios de Hades, assim como permanecer o tempo que necessitarem. Este é o caso dos psicólogos que precisam ser arquetipicamente vinculados a Hades para realizarem estudos profundos sobre a alma.
Só Hades é o arquétipo que torna possível ficarmos a vontade com o inconsciente.
(...)

13.12.05

silenciosamente

viver como adulto é amedrontador. ser inteiramente responsável por si mesmo. ninguém em quem jogar a culpa. ninguém atrás de quem se esconder. enfrentar o que há de mais difícil em nós mesmos. cotidianamente. este é o caminho a que me propus. dizem que há recompensas. ser inteiro. ter-se por inteiro. deve ser bom. enquanto eu falo, minha criança ri. acha que é mais uma brincadeira. desta vez não, meu bem. desta vez, não.

silenciosa.
ouço os outros falarem.
falo também, rio também,
mas nada digo.
alguns acham que escondo mistérios,
e me colocam um interesse que certamente não tenho,
não mais que qualquer um.
sou uma pessoa silenciosa,
dessas que ninguém vê ao primeiro olhar,
às vezes, nem ao segundo.
estou sempre na terceira margem do rio:
a do fundo.

12.12.05

palavras sujas

escrever, pra mim, é libertação. escrevendo, chego tão perto da minha verdade quanto me é possível por agora. nem sempre vivo ou vivi os sentimentos que ponho no papel (inclusive o virtual). mas me aproprio deles pelo tempo necessário para construir um poema ou uma frase. assim, sem ser atriz, vivo outras vidas em breves momentos. o que você vai encontrar aqui, não sei. apenas peço que deixe de fora o julgamento. goste ou não. sensibilize-se ou não. mas não me reduza a bom ou ruim. no mundo dos sentimentos, isso não existe.

palavras sujas

Encontrei minhas palavras
onde as deixei ontem à noite:
sobre a pia, ainda sujas de café.
pensei em jogar fora,
mas elas ainda faziam poemas.
deixei onde estavam.
espero que a empregada
não use nelas
a parte áspera da bucha.

10.12.05

o passo

todo início é difícil.
mas é fácil continuar
quando a porta de entrada
já um convite pra entrar.