5.5.06

as horas de solidão

o que fazer dessas horas com que a solidão me presenteia?
como brincar com todo esse silêncio?
há estrelas lá fora, há vento e grilos e tudo.
com tudo isso se poderia fazer um poema.
e no entanto eu faço perguntas.
os relógios não marcam horas
marcam o espaço, o percurso
entre o pensamento, a mão e a tecla.
nesse interlúdio
escorrego por entre as máscaras.
sou eu, aqui, sob a luz.
dou as mãos ao silêncio, me visto de solidão
e saio a brincar de roda
por entre estrelas e memórias.

3.5.06

no risco.

nenhum sentimento é mais detonador do que o medo. é o blockbuster das emoções. faz a gente perder todas as perspectivas, ver tudo torto e flutuante. o medo incapacita até para o amor.
o medo faz odiar.
o medo faz matar.
o medo faz silenciar.
o medo faz estragos tão grandes que muita gente morre. de medo.
e o que se contrapõe a ele? a esperança? a fé? acho que só o auto-conhecimento. as certezas íntimas de que sobreviveremos. e o humor. o bom humor, o riso, desarmam o medo. impedem que ele nos torture.
falei da fé. ela também é importante. mas não a que reza e pede, mas a que confia e aguarda. (aguardar não é cruzar os braços, viu? é continuar remando, certos de que vamos chegar a algum lugar útil).
o medo é do ego. ele não quer perder, não quer abrir mão, não quer sair mal na foto.
vem de tudo que a gente não se permite ser e viver. o medo vem do hábito. a gente quer tudo igual, estável, certinho. viver no risco? nem pensar.
mas tem outro jeito de viver que não seja no risco?
enquanto escrevo, contemplo esse medo que me faz suar e tremer. que deixa as mãos molhadas e a boca seca. que me faz fechar os olhos. que me impede de dormir.
argumento comigo:
o medo me faz mono. sou estéreo.
o medo me faz 1.0. mas já estive off-road o suficiente pra saber que tenho turbo e tração nas 4 rodas.
por mais que ele seja grande, não é dois. e eu sou várias.
e, ainda assim, tenho medo.
por que escolhi diferente. porque há o feijão e há o sonho. porque meu ego é forte e a carne é fraca. porque ainda não sei se estou caindo ou voando.

2.5.06

fala, filhota!

o rancho xxx é muito bom. lá tem piquenique, casinha, tirolesa e a gente pode soltar pipa e tem piscina que a gente não pode
nadar.

(emprestei o espaço só um pouquinho pra minha filhota escrever. coruja, eeeeuuuu?)

graças, são narciso!

certeza: postar vicia.
fico aqui pensando na próxima coisa, no próximo assunto, na próxima poesia, nos próximos comentários.
fico elaborando temas, fazendo frases, nas horas mais inconvenientes.
e se o trem sai do ar, é um deus-nos-acuda interno. pensamentos em polvorosa, dedos formigando (e o post? e o post?).
mas é tão bom, tão bom, tão bom...
escrever é tão bom quanto ler. e num espaço que é meu, meu, só meu, infantilmente todo meu...
ave, narciso! esta que adora o próprio blog vos saúda!

1.5.06

pipoca, silêncio e poesia.

e depois tem gente que não gosta de ler.
“ o amor que acende a lua”, de rubem alves, ed. papirus, é uma coisa.
são textos , vários, abordando diferentes temas. todos, claro, trazendo a unidade da mensagem. pra quem gosta de escrever é uma aula. frases curtas, de uma simplicidade desconcertante. pra quem gosta de ler é um achado. nestas mesmas frases, conceitos tão ricos e tão... nossos – de todo mundo. poesia em prosa.
acabo de ler dois desses textos (detesto as classificações: crônicas, artigos.... pra mim tudo é texto, desculpem-me.) um fala de pipoca. outro de escutatória, como inventou o rubem. tomo a licença de colocar aqui um trecho do texto com título “a pipoca”:
“Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.”

No texto “escutatória”, ele fala da importância do ouvir. e da importância do silêncio. desse nem dá pra reproduzir um trecho só. esse texto me tocou profundamente. vai tão ao encontro do que penso e da minha necessidade atual de silêncio... chorei ali mesmo, na mesa da cozinha (eu tenho mania de ler enquanto como). chorei de beleza. de não conseguir conter tanta poesia, tanta verdade. chorei porque depois de ler, tive um instante mágico: vi a incrível beleza que me cerca. o vaso de plantas no passa-prato. as garrafas vazias e transparentes enfeitando minha cozinha. os momentos de silêncio operoso em que arrumei minha cama e a de minha filha, em que lavei os pratos. e tive tanta gratidão...
ainda estou sob o efeito dessa magia. nesse momento, tudo me comove. porque tudo é belo demais. e o meu cálice transborda...

(esse texto é de ontem. mas minha internet tava fora do ar...)