5.6.13

gosto de coisas desamparadas.
de bichos de rua.
de crianças.
de casas abandonadas.
gosto da inocência que têm as coisas desamparadas.
da limpeza das que ainda não sofreram.
da mistura de medo e vontade das que foram maltratadas.
gosto dos espaços empoeirados,
dos canteiros cheios de limo,
das almas desassossegadas.
gosto do silêncio tranquilo
sofrido,
nu,
das coisas desamparadas.
às vezes são simples.
às vezes, complicadas.
são sempre e apenas
coisas, pessoas, vidas

desamparadas.

21.11.12

Cigarro



A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem
Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?
Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?


Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu
O amor é pedra no abismo
A meio-passo entre o mal e o bem
Com meus botões à noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?
Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem?
Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?








eu penso que erro. e erro.
eu penso que acerto. e erro.
eu não penso. acerto.
eu não sinto. acerto.
eu me escondo. erro.
eu nada.
erro.
acerto.
ilusão.

23.10.12

80 por hora.

olhar pra trás é agridoce. doce a inconsciência dos poucos anos. doces as ilusões. doces as fantasias e a maneira leve como olhávamos o mundo. doces  a dores, as decepções, porque sempre havia amanhã.  muitos amanhãs. éramos infinitos. éramos jovens. éramos pássaros.
saudosismo bruto, eu sei. nada é tão cor-de-rosa. mas visto daqui, este é o cenário. 
por mais amanhãs que eu ainda tenha, não têm mais a ignorância daqueles dias. eu sei. e isso muda tudo. claro que cada minuto é novo e surpreende. mas... agora existe um medo. não sou só mais eu e o mundo. sou eu, trabalho, família, contas, casa, carro... não, não dá pra ser igual.  o que sinto falta, nunca mais terei. 
não dá pra desolhar o que já vi, pra dessentir o que passei, nem pra desviver tantas coisas. esse é o travo. o amargo. o cínico. o cético. aí o proparoxítono. minha vida, hoje, é boa. tenho tesouros de que nunca abriria mão, nem por aqueles dias cor-de-rosa. mas, ô saudade. do que eu era. do que eu seria. não tenho pretensões a peter pan, mas que falta fazem as minhas ombreiras...

18.9.12

muitos anos depois

era hora do adeus e ela não percebia
tão atenta a outros sinais
o de que não seria jamais
o que prometera.
não havia mais malas a fazer.
nem gestos a lamentar,
nem ausências,
nem nada.
apenas um minuto de silêncio
dedicado a um pé de jasmim.
quando a porta bateu não fez vento.
ainda assim um papel caiu
num chão que não havia mais.

8.3.12

ilusão é quando a gente sobe uma escada que não existe.

23.12.11

minha mensagem de natal não é pra você adulto.

é pra você criança.
pra o você que você era quando quis tanto o amor perfeito dos seus pais e só conseguiu um amor de pais humanamente imperfeitos.
para o menino ou menina que queria muito um amor incondicional, e que foi se adaptando a tantos “se” que um dia se perdeu do que de fato era. e é.
para aquela criança que foi construindo imagens e máscaras e tentando outros jeitos de ser, pra ser melhor, mais bonita, mais qualquer coisa que pudesse ser para ser mais amada.
para a criança que fingia dormir, atenta aos ruídos de papai noel, que corria até a porta - “ele tá indo, ele tá indo... ahh... já foi!”
para a criança que se esconde hoje sob o escudo do adulto, que vive suas infantilidades sem perceber, na briga, na mágoa, nos desejos, na intolerância à frustrações; mas também na leveza, no riso, na molecagem gostosa.
pra essa criança que eu digo: feliz natal, meu amor! que 2012 desembrulhe pra você o carinho, a segurança, as certezas de que há um adulto que pode cuidar de você e sustentar tudo aquilo que lhe parece, às vezes, grande demais. (e se você não percebeu esse adulto também é você.)
então, vamos brincar? de quê? de ano novo, ora bolas!




9.12.11

dia desses

quanto tempo faz não me olho nesse espelho.
quanto tempo sem ouvir notícias,
nem ver fotos,
nem receber emails.
ficar tanto tempo sem me ver
não pode acontecer.
um dia desses,
andando pela rua, vou cruzar comigo.
e será apenas um levantar de sombrancelhas,
e uma vaga lembrança de algum lugar...