postar às 9h da manhã é mesmo um luxo. mas não tem a poesia da noite, claro.
li esses dias um texto da martha medeiros sobre uma mulher que procura um lugar para chorar, dentro de seu carro e não encontra onde possa estacionar. aí chora com o carro andando mesmo. dizer que o texto está bem escrito é redundância. a martha (desculpe a intimidade) é hoje minha escritora favorita. ela fala do cotidiano, nos põe pra pensar a vida em curso. nos retrata, nus e fáceis como crianças.
isso de chorar no carro é um hábito antigo meu, principalmente depois que me casei. e mais ainda depois que tive minha filha. saio pelas ruas pouco movimentadas, andando a vinte por hora, deixando vazar aquelas mágoas pequenas ou grandes que ficam pingando por dentro e terminam por sufocar. aí libero o dilúvio e a sensação de alívio é avassaladoramente boa. é uma euforia pós-parto. pra mim, que tenho tanta dificuldade de demonstrar o que sinto, são momentos preciosos. dentro do carro choro alto e soluçado, dolorida e piegasmente. tenho uma amiga que também usa este veículo (trocadalhinho...).
por isso quando passar por um carro onde uma mulher se acaba de chorar, faça cara de parede e finja que o quadro faz parte da paisagem. e, na verdade, faz. dessa paisagem onde mulheres que choram não recebem promoção (é emocionalemnte instável), geram culpa na família (olha o que você fez com a sua mãe!) ou passam por frágeis (tadinha dela, não agüenta pressão...).
se você nunca chorou no carro, experimente. e experimente também ler martha medeiros. assim até dá pra ser feliz.