23.12.11

minha mensagem de natal não é pra você adulto.

é pra você criança.
pra o você que você era quando quis tanto o amor perfeito dos seus pais e só conseguiu um amor de pais humanamente imperfeitos.
para o menino ou menina que queria muito um amor incondicional, e que foi se adaptando a tantos “se” que um dia se perdeu do que de fato era. e é.
para aquela criança que foi construindo imagens e máscaras e tentando outros jeitos de ser, pra ser melhor, mais bonita, mais qualquer coisa que pudesse ser para ser mais amada.
para a criança que fingia dormir, atenta aos ruídos de papai noel, que corria até a porta - “ele tá indo, ele tá indo... ahh... já foi!”
para a criança que se esconde hoje sob o escudo do adulto, que vive suas infantilidades sem perceber, na briga, na mágoa, nos desejos, na intolerância à frustrações; mas também na leveza, no riso, na molecagem gostosa.
pra essa criança que eu digo: feliz natal, meu amor! que 2012 desembrulhe pra você o carinho, a segurança, as certezas de que há um adulto que pode cuidar de você e sustentar tudo aquilo que lhe parece, às vezes, grande demais. (e se você não percebeu esse adulto também é você.)
então, vamos brincar? de quê? de ano novo, ora bolas!




9.12.11

dia desses

quanto tempo faz não me olho nesse espelho.
quanto tempo sem ouvir notícias,
nem ver fotos,
nem receber emails.
ficar tanto tempo sem me ver
não pode acontecer.
um dia desses,
andando pela rua, vou cruzar comigo.
e será apenas um levantar de sombrancelhas,
e uma vaga lembrança de algum lugar...

4.8.11

o que fazem nossas desculpas

eram tantas e tão diversas,
todas querendo sair ao mesmo tempo,
desordenadas.
e as quietas, caladas, ao fundo,
me olhavam implorando: liberta-nos!
na fuga da cidadela,
nas estradas cheias de refugiados de guerra,
minha confusão era apenas mais uma.
e fui deixando que os tanques de silêncio
dominassem a paisagem,
que as trincheiras se erguessem cada vez mais fundas e altas.
vejo agora a paisagem desolada
construída com as desculpas dos dias.
e ainda toca-me fundo
o olhar daquelas palavras.

2.8.11

Não ando perdida, mas desencontrada.
(Cecília Meireles)

10.6.11

talvez seja sem sentido,
talvez  não seja politicamente correto.
mas a face que no espelho me
escarnece:
velha!
é a mesma que me grita: cresce!

15.5.11

e pronto.

foi pressa, foi festa, foi fácil....
e eu que achava conhecer tudo,
descobri:
é muito mais.

24.2.11

prece madura

pai, agora que não estou mais no tempo de alimentar ilusões,
aguça meus sentidos para que eu perceba a beleza das realidades.


pai, agora que as opções foram feitas e tantas portas se
fecharam no definitivo, dá-me aceitação para que as renúncias não
sejam um fardo pesado demais.


pai, agora que a soma dos erros derrubou as jovens ilusões
de onipotência, não me tire as pretensões de continuar tentando
acertar.


pai,  agora que tantos desenganos, tantas incompreensões
repetiram lições de ceticismo, conserva minha boa fé e minha
disponibilidade frente às criaturas.


pai,  agora que as forças do meu corpo começaram a falhar,
alerta o meu espírito; livra-me do comodismo, redobra minha vontade.


pai, agora que já aprendi a precariedade de todas as coisas,
as limitações de todas as lutas, as proporções de nossa pequenez,
afasta-me do desânimo.


pai,  agora que já alcancei o ponto de perspectiva que me exalta a
visão do pouco que sei, livra-me da defesa fácil de colocar viseiras
e ajuda-me a envelhecer com a abertura dos corajosos,
dos que suportam provações até a hora da morte.


pai,  agora que aumenta o círculo das criaturas que me olham
e esperam alguma coisa de mim, dá-me um pouco de sabedoria,
ensina-me a palavra certa, inspira-me o gesto exato,
norteia minha atitude.


pai,  agora que perdi a abençoada cegueira da juventude
e só amar de olhos abertos, redobra minha compreensão,
ajuda-me a superar as mágoas, protege-me da amargura.


deus pai, , concede-me a graça de não cair na desilusão, de não
chorar o passado, de continuar disponível, de não perder o ânimo,
de não envelhecer jovem, de chegar à morte com reservas de amor.


(autoria desconhecida)

há tempos, uma querida me enviou esta prece. achei linda na época. mas agora faz  mais sentido. o fruto só cai quando maduro, não é?

17.1.11

coisa mais feia!

que menina mal-comportada,
desatando a correr nesse quintal!
pára, menina, sossega,
não vê que o chão é de cristal?