19.3.07

leve

levanto devagar meu braço esquerdo. não, não, me dizem, é preciso que seja o direito - a mão com que você escreve...
enquanto abaixo o esquerdo, gentilmente pegam meu braço direito e o colocam na horizontal. não olho, fico contemplando o dorso da mão que fica, suas veias e sulcos.
pelo canto do olho vejo o brilho da lâmina. ouço o baque, sinto o sangue quente se espalhando. não há dor. uma sensação de formigamento começa onde antes havia o braço.
ouço os refolhos de asa se abrindo.
todos me sorriem. relevam meu sorriso vago e sem foco. sabem das dificuldades de ser meio borboleta, meio gauche.
limpam tudo com eficiência e em silêncio. quando a porta se fecha atrás do último deles, sopra o vento com cheiro de flor. é quando sinto a asa tremular. ao mesmo tempo, minha mão esquerda pousa levemente no parapeito da janela.

2 comentários:

Atena disse...

Querida Borboleta,

Sonhei com você esta noite. Caminhávamos numa praia estreita, as ondas estavam muito intensas e revoltas, mas não nos atingiam. Depois, entramos numa estrada escura e continuamos a conversa. O mais interessante é que nem o mar bravio, nem a escuridão do caminho abalou nosso caminhar junto, em diálogo, sempre em frente.
Que assim seja!

Bons vôos,

Beijos mil.

persefone disse...

Juntas... talvez aí o segredo.
Bj, linda!